O filme A Idade da Inocência, de Martin Scorsese, estreou-se em algumas salas dos EUA no dia 17 de setembro de 1993 (viria a ter distribuição alargada a partir de 1 de outubro). Passados trinta anos, será oportuno colocar uma pergunta cinéfila: até que ponto as suas singularidades românticas persistem no cinema, em geral, e na produção de Hollywood, em particular?
Não há resposta linear nem definitiva, embora uma coisa seja certa: nas décadas mais recentes, entre os efeitos perniciosos do domínio (industrial e comercial) das aventuras de super-heróis encontramos o menosprezo pelas grandes tradições da produção americana, incluindo aquelas que, directa ou indirectamente, envolvem a linguagem melodramática.
Vale a pena recordar que, de David W. Griffith a Scorsese, passando por Vincente Minnelli, o melodrama sempre existiu visceralmente ligado ao espaço literário, tendo criado uma linguagem que está longe, muito longe, de ser uma mera "ilustração" dos livros que o podem inspirar. Aliás, A Idade da Inocência, baseado no romance homónimo de Edith Wharton (1862-1937), sobre a "alta sociedade" novaiorquina na segunda metade do século XIX, é um herdeiro muito directo desse historial — inclusive nas suas relações com outros domínios artísticos, como a pintura e a música.
Alguns nomes da ficha do filme são símbolos de uma versatilidade criativa em que se cruzam muitas dessas referências e inspirações. Assim, por exemplo, a direcção fotográfica tem assinatura de Michael Ballhaus (1935-2017), alemão que tivera uma contribuição decisiva para os primeiros anos da filmografia de Rainer Werner Fassbinder; a banda sonora é da autoria de Elmer Bernstein (1922-2004), compositor ligado a títulos como "O Homem do Braço de Ouro" (Otto Preminger, 1955), "Os Sete Magníficos" (John Sturges, 1960) ou ainda, como trabalho final, "Longe do Paraíso" (Todd Haynes, 2002).
Tudo isto sem esquecer, claro, o valor primordial dos actores nas narrativas melodramáticas. Michelle Pfeiffer e Daniel Day-Lewis são sublimes, como rara vezes o foram, surgindo acompanhados, entre outros, por Winona Ryder, Miriam Margolyes, Geraldine Chaplin, Michael Gough e Richard E. Grant. E ainda Joanne Woodward, não na imagem, mas em off, na função de narradora.