Conhecemos Jon Batiste (n. 1986) sobretudo como pianista e líder da banda do programa televisivo “The Late Show” (CBS), de Stephen Colbert. Em tempos recentes, foi-se afirmando como um talentoso criador musical, nomeadamente através de dois álbuns de sucesso: “We Are” (2021) e “World Music Radio” (2023). Até que decidiu apostar num projecto sinfónico ainda mais ambicioso, chamado, precisamente, “American Symphony”.
Esse é também o título de um belo documentário, realizado por Matthew Heineman, que podemos descobrir graças ao streaming. Começou por ser o registo da escrita e da produção dessa obra sinfónica, cruzando referências muito diversas, do jazz ao hip hop, passando pela soul — a estreia aconteceu no dia 22 de setembro de 2022, em Nova Iorque, na lendária sala do Carnegie Hall.
Mas algo alterou de forma dramática todo esse processo. Suleika Jaouad, escritora e jornalista, companheira de Jon Batiste, adoeceu com um cancro de origem óssea, iniciando o seu tratamento durante a preparação de “American Symphony”. Que fazer? Com a concordância do casal, Heineman pôde acompanhar o trabalho de Jon Batiste, mantendo também a sua câmara disponível para a observação de momentos da intimidade familiar.
Não há, aqui, nenhum “voyeurismo”, antes o cumprimento de um contrato transparente entre um cineasta e, por assim dizer, as suas personagens. De tal modo que “American Symphony” se apresenta como uma crónica sobre as alegrias e dores da vida de um casal e, indissociavelmente, uma celebração da música e da sua energia criativa. Não é todos os dias que assistimos, assim, a uma demonstração de tão delicada cumplicidade entre quem filma e quem é filmado — além de que, claro, a música é magnífica.
