Cultura

Filme "Father Mother Sister Brother", de Jim Jarmusch, conquista Leão de Ouro de Veneza

Nesta 82.ª edição, o júri internacional decidiu galardoar a comédia dramática, escrita e realizada por Jim Jarmusch, com o prémio máximo do certame. O segundo mais importante foi atribuído ao filme da realizadora tunisina Kaouther Ben Hania, sobre uma menina palestiniana morta pelo exército de Israel.

Filme "Father Mother Sister Brother", de Jim Jarmusch, conquista Leão de Ouro de Veneza
Yara Nardi/Reuters

O filme "Father Mother Sister Brother", de Jim Jarmusch, conquistou o Leão de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Veneza, e "The Voice of Hind Rajab", de Kaouther ben Hania, sobre a Palestina, o Leão de Prata.

Nesta 82.ª edição, que encerra este sábado, na cidade italiana, o júri internacional decidiu galardoar a comédia dramática, escrita e realizada por Jim Jarmusch, com o prémio máximo do certame.

O segundo prémio mais importante do certame internacional foi atribuído ao filme da realizadora tunisina Kaouther Ben Hania, sobre uma menina palestiniana morta pelo exército de Israel.

Kaouther ben Hania - ovacionada de pé por toda a audiência na sala da cerimónia da entrega do palmarés do festival - dedicou o galardão "a todos os que arriscam a própria vida para salvar o povo palestiniano", apelando ao "fim do genocídio que o regime criminoso de Israel está a cometer diariamente".

"Todos acreditamos na força do cinema. É o que nos dá coragem para continuar a contar histórias", disse, sobre a longa-metragem que relata a história verídica de uma menina palestiniana de cinco anos encontrada sem vida, em janeiro de 2024, em Gaza, dentro de um carro onde seguia com tios e primos, alvo de um ataque israelita.

Antes de morrer, Hind Rajab passou várias horas ao telefone com paramédicos do Crescente Vermelho, enquanto o carro era alvejado por militares e os familiares eram assassinados, e essas gravações serviram de base para o filme exibido em Veneza.

O cineasta norte-americano Jim Jarmusch - cujo filme é protagonizado por um elenco que inclui Tom Waits, Adam Driver, Mayim Bialik, Charlotte Rampling, Cate Blanchett, Vicky Krieps, Sarah Greene, Indya Moore e Luka Sabbat - agradeceu, por seu turno, a "grande honra" concedida pelo júri de Veneza, "na terra de Casanova, Vivaldi e Terence Hill".

O Leão de Prata - Melhor Realizador coube a Benny Safdie, por "The Smashing Machine" e o Prémio Especial do júri foi para o filme "Sotto le Nuvole", de Gianfranco Rosi.

O cineasta norte-americano Alexander Payne presidiu ao júri formado ainda pelos realizadores Stéphane Brizé, Mohammad Rasoulof, Maura Delpero, e Cristian Mungiu, e pelas atrizes Fernanda Torres e Zhao Tao, que entregaram os prémios principais.

Na competição oficial estavam ainda "A house of dynamite", de Kathryn Bigelow, "Frankenstein", de Guillermo del Toro, "Bugonia", de Yorgos Lanthimos.

A Taça Volpi - Melhor Ator coube a Tony Servillo, por "La Grazia", e para Melhor Atriz a Xin Zhilei, em "The Sun Shines on Us All", enquanto o Prémio Marcello Mastroianni para um ator ou atriz emergente foi atribuído a Luna Wedler, pelo papel em "Silent Friend".

Foi ainda entregue o Prémio Melhor Argumento a Valerie Donzelli e Gilles Marchand do filme "À Pied d'Oeuvre".

Nastia Korkia, realizadora de origem russa que venceu o prémio Leão do Futuro, com o filme "Short Summer", ao receber o galardão, criticou a invasão da Ucrânia: "Como uma radiação, está a destruir a sociedade por dentro. Espero que mantenhamos os olhos abertos para ter a coragem de parar esta guerra".

Ao longo da cerimónia foram vários os cineastas que - ao receberem os seus prémios - afirmaram, no fim dos discursos de agradecimento, "Viva a Palestina!" ou "Palestina livre!", entre eles Maryan Touzani e Ana Cristina Barragan.

Anuparma Roy, realizadora indiana galardoada com a Melhor Realização por "Songs of forgotten trees", sobre a história de uma amizade entre mulheres, na secção "Horizontes", manifestou um apoio especial ao povo palestiniano, no seu discurso, defendendo que "todas as crianças merecem liberdade e esperança".

Na mesma secção, o prémio de Melhor Filme foi para "El camino", de David Pablos, uma história de solidariedade, e o júri atribuiu o prémio especial a "Harà vatan (Lost Land)", de Akio Fujimoto, um filme sobre o sofrimento do povo Rohingya, uma das minorias mais perseguidas do mundo, enquanto o filme "The Souffleur", de Gastón Solnicki, com direção de fotografia do português Rui Poças, ficou fora das distinções.

Um grupo formado por ativistas, profissionais e jornalistas italianos lançou, antes do início do certame internacional, a 27 de agosto, uma carta aberta apelando ao festival para que condenasse "a agonia de um genocídio perpetrado em direto pelo Estado de Israel".

O Leão de Ouro de carreira distinguiu o cineasta e escritor alemão Werner Herzog e a atriz norte-americana Kim Novak, tendo sido também distinguidos com prémios especiais de carreira os realizadores Gus Van Sant e Julian Schnabel.