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Não sou eu, és tu  

Jorge Jesus é um viciado em amor. Precisa que lhe demonstrem carinho da mesma forma que um alcoólico procura mais uma garrafa ou que um jogador compulsivo gasta as últimas fichas no casino.

Não sou eu, és tu  
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Vive disso e para isso. Procura-o em todas as partes. Em todos os lugares. De Portugal ao Brasil. E põe essa necessidade à frente de tudo.

É incapaz de resistir às manifestações que o endeusam e que o colocam nos píncaros. Mesmo numa profissão em que os estados de alma mudam do dia para a noite. Isso é para os outros. Não é para ele. Porque ele, assim entende, está acima de tudo isso.

Da mesma forma, não compreende, nem aceita, o oposto. E fica desfeito quando não saem em sua defesa. Pior do que os lenços brancos ou os assobios na Luz, é o silêncio de Rui Costa. É não ter uma manifestação pública do seu presidente. Uma serenata para o bairro inteiro ouvir.

Os dirigentes do Flamengo conhecem-no bem e tocam a música que lhe agrada. Acenam-lhe com um Maracanã que canta pelo seu regresso e seduzem-no para um café de aroma afrodisíaco.

No fundo, fazem o seu jogo, a sua parte. Não interessa se é casado. Porque amor é amor. E num passado nada distante houve quem fizesse o caminho inverso para provocar um divórcio. Essa ferida ainda está aberta. Marcos Braz, “vice” do Flamengo, lembra-o de todas as vezes.

Depois há a outra parte. Cada vez mais evidente. Jesus e o Benfica estão mal casados. Não é amor, é contrato. Não vivem juntos, dividem casa. E há muito tempo que dormem em camas separadas. Mesmo nas vitórias.

Pode durar uma semana, um mês ou até Maio. Mas nunca mais do que isso. Haja o que houver. Este casamento já só existe no papel. As partes toleram-se. E mal.

Mas é diferente o Benfica partir para outra, deixando Jorge Jesus sozinho, ou ambos começarem de imediato novas relações. É aí que também entra o Flamengo. Uma escapatória para manter o ego lá no alto: “Não fui despedido, fui-me embora”, dirá a si próprio e a todos os que o queiram ouvir.

Depois, caso venha a ser feliz noutra casa, com todo o amor que precisa para respirar, poderá sempre voltar a ligar a Rui Costa: “Vês? Não era eu, eras tu.”