João Pombinho tornou-se o primeiro português a participar e a concluir a Race Across America (RAAM) a solo, a "prova rainha" do ultraciclismo. Pedalou 4.800 quilómetros em menos de 12 dias. Durante a prova, houve uma angariação de fundos para o IPO de Lisboa, na qual foi possível recolher mais de 2.670€.
Onze dias, 20 horas e 38 minutos foi o tempo que João Pombinho atravessou os Estados Unidos de costa a costa. Ou seja, três horas e 22 minutos antes do tempo limite. O ultraciclista, engenheiro de profissão, cruzou a meta depois de pedalar 4.800 quilómetros. Começou em Oceanside, na Califórnia, no dia 13 de junho, e terminou em Annapolis, em Maryland, no dia 25.
Durante a prova, o atleta, também conhecido por IronPigeon, foi acompanhado por uma equipa de sete pessoas, que considerou "crucial", distribuídas em duas viaturas de apoio obrigatórias.
A 'crew' de João Pombinho foi ainda partilhando alguns momentos da prova nas redes sociais, incluindo um direto do ultraciclista a passar a meta da RAAM.
Um dia depois da prova, o Iron Pigeon descreveu a experiência como "excecionalmente intensa" e disse, em comunicado, sentir-se muito feliz, por ele, pela equipa e "pela forma tão única como assumiram e levaram até ao fim este desafio".
A Race Across America, a "prova rainha", é considerada uma das provas de ultraciclismo - ciclismo de longa distância - mais difíceis do mundo. Por exemplo, mais de 4000 pessoas subiram o Monte Evereste, mas, em 40 anos, menos de 400 terminaram a RAAM a solo.
"Cada metro conta": a angariação de fundos para o IPO
"Cada metro conta" foi o lema da angariação de fundos para o IPO, que decorreu a partir de dia 10 de junho, Dia de Portugal, na plataforma digital GoFundMe.
João Pombinho conseguiu arrecadar mais de 2.670€.
Ciclismo "resgatou" João Pombinho
João, de 40 anos, "herdou" do pai o gosto pelo desporto. O ciclismo é o "verdadeiro amor", aquele que "esteve sempre presente". Apesar de nunca ter sido ciclista profissional, era "aficionado", não perdia uma prova na televisão e, aos fins de semana, "dava umas voltas" com o pai.
Pelo caminho, praticou outros desportos, como andebol, hóquei em patins, ténis e râguebi. Foi há cerca de 15 anos que o ciclismo entrou "mais fortemente" na sua vida, como um "resgate", e desde aí nunca mais parou, contou em entrevista à SIC Notícias antes da prova.
Entre casar, ter filhos e fazer o doutoramento, teve sempre "objetivos muito traçados". Mas, a cerca altura, entrou num "estado de disfunção muito grande". Com "trabalho muito intenso", muitas horas em frente ao computador e filhas "pequeninas", estava a dormir duas ou três horas por noite. Em 2016, divorciou-se e, três meses depois, a 10 dias de participar no Ironman Barcelona, o pai morreu.
"Quando aconteceu, podia ficar em Évora ou reagia. Decidi pegar na bicicleta de triatlo dele e ir para Barcelona. Quando acabei a prova, senti um vazio. Percebi que tinha de fazer mais do que aquilo. Havia muitas provas que íamos fazer juntos. Nunca fomos e eu fiquei com uma 'bucket list' enorme. Em 2019, percebi que valia a pena arriscar", conta, em entrevista à SIC Notícias.
Participou em provas como o Norseman, o Portugal Divide e o North Cape 4000, onde percorreu "11 países em autonomia em duas semanas".
"Foi o 'trigger' que precisava para perceber que, se calhar, a lendária RAAM era possível", conta.

Para os próximos meses já tem provas marcadas, adiantou ainda na mesma entrevista à SIC Notícias. É o caso de Paris–Brest–Paris, uma prova com "charme próprio", em que as "terrinhas do percurso têm luzes acesas, mesas com comida e sítios para os ciclistas descansarem". Em outubro, participa num Ironman "especial", o 'Spirit of 78'. Inspirado nos anos 70, os participantes têm, por exemplo, de usar bigode e “bicicletas clássicas”.
O sonho da Race Across America, que decorreu entre 13 e 25 de junho, está concretizado. Foi em homenagem ao pai que participou (e acabou) esta prova.
Na 'bucket list' ficam mais de 100 provas e muita vontade de as cumprir.