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Quem é Alexandrina Cruz, a mulher que vai fazer história na Primeira Liga de futebol?

Alexandrina Cruz, gestora de 45 anos, que há quase duas décadas pertence à estrutura diretiva do Rio Ave, será a primeira mulher presidente de um clube da Primeira Liga de futebol.

Quem é Alexandrina Cruz, a mulher que vai fazer história na Primeira Liga de futebol?
JOSÉ COELHO

As eleições para os órgãos sociais do Rio Ave, da Primeira Liga de futebol, terão apenas uma lista, encabeçada por Alexandrina Cruz. Será a primeira mulher a liderar um clube de futebol português desta dimensão. Numa entrevista à Lusa, a gestora perspetiva que a sua época de estreia ao comando do clube vais ser “muito difícil”. Porém, apresenta as propostas para erigir o clube vila-condense. Ao mesmo tempo, espera inspirar outras mulheres no mundo do futebol.

Alexandrina Cruz, gestora de 45 anos, que trabalha na Câmara de Vila do Conde e que há quase duas décadas pertence à estrutura diretiva do clube, será assim a primeira mulher presidente de um clube da Primeira Liga de futebol.

"Se me perguntassem há 10 anos, ou cinco anos se tinha essa expectativa ou vontade, não", admite Alexandrina Cruz.

No entanto, reconhece que nos últimos anos as coisas proporcionaram-se a que "olhasse para o clube de forma diferente e efetivamente percebia que há mais a fazer".

Alexandrina Cruz vai suceder a António Silva Campos

A candidata, que vai encabeçar a Lista A, vai suceder a António Silva Campos na liderança do clube, dirigente que, depois de 13 anos na presidência, decidiu não continuar devido a problemas de saúde.

A descida de divisão do Rio Ave, somando as demissões na direção, e o caso Olinga indicam que o caminho de Alexandrina Cruz no Rio Ave não será fácil.

"Tivemos um retrocesso grande com a descida de divisão e se calhar o rumo poderia ter sido outro. Mesmo depois da subida, o Rio Ave tem outras oportunidades que tem de agarrar para voltar a ter um papel no futebol nacional de forma ainda mais sustentada", explica Alexandrina Cruz.

"Esta adrenalina do contratar, do ver, não existe. Por outro lado, internamente temos de mudar o chip porque faz lembrar a descida de divisão e agora aqui parece que não queremos agarrar determinadas renovações. Temos de fechar o que for possível fechar".

O emblema da foz do Ave enfrenta há quase meio ano um impedimento de inscrição de novos jogadores, na sequência de uma queixa apresentada pelos marroquinos do Raja Casablanca na FIFA por causa da contratação do camaronês Fabrice Olinga, em 2021.

Os desafios

Para já, há necessidade de vender alguns elementos do plantel.

“Ter a necessidade de vender é muito importante. Para fazer uma retrospetiva descemos de divisão com o orçamento mais caro do Rio Ave, por isso contribuímos para um défice grande com a performance desportiva menos boa”, descreve Alexandrina Cruz.

A gestora partilhou que o Rio Ave já recebeu manifestações de interesse em alguns jogadores do plantel, nomeadamente o médio Guga e o defesa Costinha, mas garantiu que “ até à data não surgiram propostas concretas”.

Para além de não conseguir vender jogadores, o clube também está impedido de inscrever jogadores, tornando as decisões de Alexandrina Cruz mais limitadas.

“A grande dificuldade não foi no ano da descida (de divisão), tínhamos recursos, mas tiveram de ser empregues para a subida. A seguir é que é difícil, ainda por cima com a questão de não conseguir vender jogadores e não poder inscrever jogadores”.

O que esperar agora?

Começamos já com a certeza de que o treinador do Rio Ave, Luís Freire, vai continuar no clube. Alexandrina Cruz considerou a renovação até 2025, o que foi um “voto de confiança no trabalho realizado nas duas últimas épocas”.

Nos planos da dirigente está promover uma reunião extraordinária com os sócios, “porque têm que se pronunciar e têm de ter noção como o clube está”, entende Alexandrina Cruz.

No projeto para o Rio Ave, Alexandrina Cruz considera fundamental que o clube volte a ter parceiros, com empresas com quem teve laços estreitos num passado recente

Alexandrina Cruz defende ainda a entrada de um investidor externo, sublinhando que na primeira fase pretende que o Rio Ave fique com a maioria.

A vice-presidente para a área financeira trabalha no clube nortenho desde 2004, quando entrou como tesoureira, passando, mais tarde, a assumir relevo na SDUQ, entidade que administra o futebol profissional vila-condense e que deseja agora transformar em SAD.

"O passivo do Rio Ave é efetivamente preocupante. Tivemos cinco lucros consecutivos e estávamos no bom caminho, mas a descida atormentou-nos. A construção de uma nova bancada e outros projetos que já tínhamos ficaram completamente parados na gaveta", lembrou, notando os efeitos gerados por "três épocas sem vendas" dos principais ativos.

Alexandrina Cruz quer ser uma inspiração para as mulheres

Alexandrina Cruz considera que é “absolutamente igual” ser homem ou ser mulher neste cargo. Porém, assume que a sua entrada para a história da Primeira Liga de futebol, como uma mulher líder de um clube, é uma “vantagem de poder abrir portas para outras mulheres”.

Com Lusa