Desporto

Análise

Mundial 2034 na Arábia Saudita: "É o que se chama sportswashing, lavar a imagem através do desporto"

Olivier Bonamici explica como a Arábia Saudita se apresenta como única candidata à organização do Campeonato do Mundo de futebol em 2034 e como esta estratégia visa “lavar a imagem através do desporto” para começar a ser visto como um país mais moderno.

Troféu do Mundial
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As Organizações de Defesa de Direitos Humanos dizem que será uma catástrofe se o Mundial de Futebol 2034 se realizar na Arábia Saudita. Essas organizações consideram que o país não respeita os direitos humanos e que a FIFA está a desrespeitar as próprias regras. Olivier Bonamici, comentador da SIC, explica como se chegou a esta situação e a forma como a Arábia Saudita está empenhada em “lavar a imagem através do desporto” para começar a ser visto como um país mais moderno.


"Tudo começa em junho do ano passado porque Portugal era candidato ao Mundial com Espanha e Marrocos e havia uma outra candidatura com Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile - duas candidaturas.

Mas há um país que vai pensar, nós também queremos um mundial, este país e a Arábia Saudita. Só que em junho, a Arábia Saudita afinal desiste porque o Qatar tinha organizado o Mundial em 2022, portanto, era complicado", começa por explicar.

Olivier Bonamici lembra que logo depois da FIFA anunciar os locais onde irá realizar-se o Mundial de 2030, surge a Arábia Saudita.

"Minutos depois, a Arábia Saudita diz: somos candidatos oficialmente ao Mundial 2034".

Pelo princípio da rotatividade, depois de um Mundial organizado por Portugal, Espanha e Marrocos e que será realizado pela primeira vez em três continentes diferentes, o campeonato do Mundo de 2034 terá que ser ou na Ásia ou na Oceânia.

A Austrália e a Indonésia estavam na corrida ao Mundial de 2034, mas desistiram e só ficou uma candidatura possível, a da Arábia Saudita.

O Mundial 2030 será repartido de forma inédita por seis países, uma vez que vai promover a disputa de três encontros na Argentina, Paraguai e Uruguai, para comemorar o centenário da prova, cuja edição inaugural foi em território uruguaio, em 1930.

Grandes interesses da Arábia Saudita em organizar eventos desportivos

A Arábia Saudita tem manifestado grande empenho no desporto, a começar pelas contratações milionárias da Liga saudita. Além disso, o país organizou o Rally Dakar de 2020 e vai organizar os Jogos Asiáticos.

No entender do comentador da SIC, a Arábia Saudita insere-se numa estratégia concertada do Golfo Pérsico.

"É a mesma razão pela qual o Qatar investe no desporto, a mesma razão pela qual os Emirados Árabes Unidos investem no desporto. São três países do Golfo Pérsico que têm um plano, uma visão, um ano, um objetivo, que é em 2030 ser menos dependente do petróleo, menos dependente do gás, também é modernizar o país.

E depois a questão da imagem é o que se chama um sportswashing, vou lavar, não é minha melhor roupa na máquina, mas é um pouco igual que é: eu vou lavar a minha imagem através do desporto e sabemos que Arábia Saudita não tem uma grande imagem no mundo e através do desporto, eles querem dar uma imagem de um país mais moderno", sublinha Olivier Bonamici.

Apesar da modernização e de alguma evolução, o comentador da SIC recorda o caso da ativista Salma al-Shehab, presa e condenada pelo facto de ter defendido o direito das mulheres e a libertação dos ativistas dos direitos humanos.

Quanto à questão financeira, Bonamici considera que é preciso “cuidado com o olhar ocidental”, a Europa tem de se conformar e os europeus têm de aceitar que estão a “perder privilégio de serem os mais ricos”.