"Em jeito de desabafo... hoje foi um dia difícil para mim como pai de um árbitro, daqueles que me deixaram a pensar se por vezes não seria melhor deixar o rapaz à porta do estádio e só voltar no fim.”
Jogo de Futebol de 7 (Sub/11).
Golo da equipa da casa logo no início. A equipa visitante entrou na segunda parte mais afoita, com mais perigo, a tentar o empate. Os miúdos da casa começaram a fazer mais faltas, marcadas obviamente por quem é o juiz da partida...
Um espectador chamou tudo o que havia para chamar ao miúdo... injuriou, ameaçou, todos os nomes possíveis e imaginários ao ponto de eu me sentir muito mal pelo rapaz.
Ao apito final e já com mais silêncio, chamou-lhe "abichanado vaidoso".
Saí da bancada e vim até ao carro, cruzei-me com o sujeito e por um momento apeteceu-me "chamá-lo à razão", mas não o fiz por respeito ao meu filho.
Não toquei no assunto, fomos a um MacDrive buscar um menu que ele comeu a correr, porque estava a caminho de outro estádio, onde teve mais dois jogos.
Para esses não fiquei, não consegui.
Em conversa ao jantar disse-me que não ouviu nada. Acho que o fez para me proteger. Não estava assim tão longe que não ouvisse.
Que mundo é este em que estamos?
O que é que leva um indivíduo a ser tão reles com um jovem, que se levanta às 7:00 num dia de chuva, para desempenhar as suas funções a troco de 10€?
Amanhã (domingo, 14) acorda novamente às 6:50. Deixou os equipamentos todos lavados e a secar, para voltar a fazer o saco bem cedo. Tem dois jogos de manhã e outro jogo de seniores à tarde. Não almoçou connosco hoje e amanhã também não almoça.
Foi a escolha dele, sou um pai orgulhoso mas hoje sinto-me desmotivado e triste."
As conclusões que se podem retirar deste desabafo são tantas, que escolho deixá-las ao critério do caro leitor.
O desporto (com o futebol à cabeça) não pode permitir que isto aconteça todos os fins de semana.
E a arbitragem tem que saber defender e proteger os seus jovens de energúmenos como este, que se esquecem que ali ao seu lado pode estar o pai ou a mãe do menino/menina que arbitra o jogo do seu filho.
O paradigma só mudará com planeamento, intervenção, paciência, coragem e, claro... vontade política.
Um dia chegamos lá.
Não duvidem. Um dia chegamos lá.