Duarte Gomes

Comentador SIC Notícias

Desporto

“Hoje foi um dia difícil para mim como pai de um árbitro”

Opinião de Duarte Gomes. Ontem recebi uma mensagem privada de um pai de um jovem árbitro (muito jovem mesmo), que aqui reproduzo com sua autorização. O desporto (com o futebol à cabeça) não pode permitir que isto aconteça todos os fins de semana.
“Hoje foi um dia difícil para mim como pai de um árbitro”
Canva

"Em jeito de desabafo... hoje foi um dia difícil para mim como pai de um árbitro, daqueles que me deixaram a pensar se por vezes não seria melhor deixar o rapaz à porta do estádio e só voltar no fim.”

Jogo de Futebol de 7 (Sub/11).

Golo da equipa da casa logo no início. A equipa visitante entrou na segunda parte mais afoita, com mais perigo, a tentar o empate. Os miúdos da casa começaram a fazer mais faltas, marcadas obviamente por quem é o juiz da partida...

Um espectador chamou tudo o que havia para chamar ao miúdo... injuriou, ameaçou, todos os nomes possíveis e imaginários ao ponto de eu me sentir muito mal pelo rapaz.

Ao apito final e já com mais silêncio, chamou-lhe "abichanado vaidoso".

Saí da bancada e vim até ao carro, cruzei-me com o sujeito e por um momento apeteceu-me "chamá-lo à razão", mas não o fiz por respeito ao meu filho.

Não toquei no assunto, fomos a um MacDrive buscar um menu que ele comeu a correr, porque estava a caminho de outro estádio, onde teve mais dois jogos.

Para esses não fiquei, não consegui.

Em conversa ao jantar disse-me que não ouviu nada. Acho que o fez para me proteger. Não estava assim tão longe que não ouvisse.

Que mundo é este em que estamos?

O que é que leva um indivíduo a ser tão reles com um jovem, que se levanta às 7:00 num dia de chuva, para desempenhar as suas funções a troco de 10€?

Amanhã (domingo, 14) acorda novamente às 6:50. Deixou os equipamentos todos lavados e a secar, para voltar a fazer o saco bem cedo. Tem dois jogos de manhã e outro jogo de seniores à tarde. Não almoçou connosco hoje e amanhã também não almoça.

Foi a escolha dele, sou um pai orgulhoso mas hoje sinto-me desmotivado e triste."

As conclusões que se podem retirar deste desabafo são tantas, que escolho deixá-las ao critério do caro leitor.

O desporto (com o futebol à cabeça) não pode permitir que isto aconteça todos os fins de semana.

E a arbitragem tem que saber defender e proteger os seus jovens de energúmenos como este, que se esquecem que ali ao seu lado pode estar o pai ou a mãe do menino/menina que arbitra o jogo do seu filho.

O paradigma só mudará com planeamento, intervenção, paciência, coragem e, claro... vontade política.

Um dia chegamos lá.

Não duvidem. Um dia chegamos lá.