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A “ironia saborosa” da Taça da Liga, que está quase a dizer adeus a Portugal

SC Braga e Estoril disputam este sábado a final da Taça da Liga, a segunda da história sem os três do costume. O jogo, as estrelas, a valorização do futebol português e o futuro fora de portas em análise, com a visão de Luís Cristóvão.

Taça da Liga
Taça da Liga
Liga Portugal

Quase todos ansiavam por um Sporting-Benfica, mas a Taça da Liga guardava-nos uma surpresa em dose dupla, uma “ironia saborosa” do que é o futebol. Os gigantes da capital tiveram hipóteses – muitas – para lutarem entre si, este sábado, em Leiria. Do outro lado, porém, estavam os minhotos, donos de um arsenal ofensivo ao alcance de poucos, e os estorilistas, uma equipa recheada de talento que tem sido pesadelo dos gigantes.

Numa quase despedida da Taça da Liga – a partir de 2026 a final four vai ser disputada no estrangeiro -, o Municipal de Leiria recebe SC Braga e Estoril para o duelo que vale o título (19h45, na SIC). Em 17 edições, esta é apenas a segunda em que Sporting, Benfica e FC Porto ficam de fora da final. “É quase irónico isso acontecer, numa competição que está desenhada para os clubes grandes”, diz Luís Cristóvão, jornalista e comentador da SIC, considerando que o embate deste sábado “valoriza o futebol português”.

Valoriza para dentro, mas também para fora. A diretora executiva da Liga Portugal, Helena Pires, conta que a final, que pode resultar num inédito título do Estoril ou no terceiro do SC Braga, será transmitida “em mais de 164 países”.

“É provável que a grande maioria das pessoas já conheça o Braga, por causa da Liga dos Campeões e dos jogadores internacionais, mas provavelmente não conhece o Estoril. Isto vai valorizar o futebol português, exibições como as do Dani Figueira na baliza, do Rodrigo Gomes [que não vai jogar este sábado], do Rafik Guitane. É uma excelente oportunidade para que as pessoas fiquem a saber que existe um Estoril com grandes jogadores”, afirma Luís Cristóvão.

Mas as ambições da Liga não ficam por aí – e é aí que está o problema. A partir de 2026, a final four será jogada fora de Portugal. “Há várias propostas na mesa”, garante a CEO, que diz ter em conta “os interesses dos calendários, agentes, produtos e da Liga Portugal”. E os adeptos?

“Estamos à procura de um financiamento em cima de uma retirada do futebol do coração da sua existência, dos seus adeptos. Existe uma dúzia de atores globais que, onde quer que joguem, vão ter adeptos no estádio, mas acho que estamos ainda muito longe disso”, explica o comentador SIC, que percebe a “questão financeira”, mas discorda dos meios utilizados para lá chegar.

Recorde-se que este é o último ano da Taça da Liga no atual formato. Em 2024/2025, a competição passa a contar com os seis primeiros da Primeira Liga e os dois primeiros da Liga Sabseg, o que quer dizer que o Estoril, se for campeão este sábado, pode não ter a chance de defender o título.

“Eles não vão pagar para ter o futebol português”

Há outro ponto relevante na questão da “exportação” da Taça da Liga. Não é a mesma coisa vender os jogos para a Arábia Saudita, á semelhança do que fazem as ligas espanholas e italianas com as suas Supertaças, ou para países como França, Luxemburgo ou Suíça, que recebem grandes fatias da emigração portuguesa.

“Se for para a Arábia Saudita ou para o Qatar, eles não vão a pagar para ter o futebol português, vão pagar para que o seu território seja visto como um espaço onde se possa jogar futebol. Pelo que temos visto, pagam também para que o discurso sobre o país seja mais simpático do que deveria ser, tendo em conta os abusos de direitos humanos que são realizados nesses países”, considera Luís Cristóvão.

Num texto da Tribuna Expresso, o tema é explicado à luz das bancadas vazias do Awwal Park, em Riade, durante as meias-finais da Supertaça de Itália, entre Nápoles e Fiorentina. É fácil projetar o que aconteceria se SC Braga e Estoril jogassem por lá, a milhares de quilómetros de quem tem real interesse em vê-los.

O risco do Estoril contra o favoritismo do SC Braga

Mas voltemos ao jogo deste sábado, que ainda não são horas de fazer as malas. Os minhotos, apesar das quatro derrotas seguidas antes do triunfo frente ao Benfica, são claros favoritos diante de um Estoril que tem mais futebol do que resultados. O 15.º lugar ocupado pelos “canarinhos” na Liga não reflete a qualidade de quem é uma espécie de “equipa sensação” do futebol português, principalmente depois da chegada de Vasco Seabra.

“É uma equipa que joga sempre no risco, joga aberta, gosta de sair com bola (…) Mas é esse risco que torna a equipa atraente aos nossos olhos. Pode correr mal em alguns jogos, mas é uma ideia que aumenta o valor do Estoril”, diz Luís Cristóvão.

O poderio ofensivo do Estoril reflete-se nos números – são 32 golos marcados na Liga, mais dois que o FC Porto, só atrás de Sporting, Benfica e SC Braga – e em jogadores como Rodrigo Gomes, Mateus Fernandes, Koba Koindredi e Rafik Guitane, que tem o futuro apontado para o Estádio da Luz no verão.

Em antevisão, Artur Jorge disse que esta “é a final mais difícil que o Braga poderia ter”, uma ideia que o comentador da SIC corrobora: “O Braga vai ter de assumir o jogo, contra uma equipa que combate muito isso e que vai querer ter bola, mas que, quando não tem, é muito forte no contra-ataque”.

“O Estoril joga mais descomplexado. Não há obrigação de ganhar a final. A questão da responsabilidade pode pesar se o SC Braga não entrar bem ou não conseguir marcar cedo”.

Apesar do início prometedor dos bracarenses, que montaram uma equipa de luxo para uma época marcada pelo regresso à Liga dos Campeões, as contas já estão por esta altura mais complicadas no campeonato, com 10 pontos de diferença para o líder Sporting. O que não quer dizer que a turma do Minho esteja nos trilhos errados.

O “mix” de talento jovem – Salazar, Djaló, Niakaté – com a experiência de João Moutinho, Pizzi e José Fonte somado à melhor forma de Ricardo Horta, Bruma e Banza é uma fórmula que pode dar grandes resultados num futuro não tão distante.

“O clube já tem a solidez financeira para disputar algumas contratações com os “grandes”. O Braga desta época tem essa imagem, de jogadores mais experientes, muitos em alto nível. Acho perfeitamente possível que venha a ser campeão nas próximas temporadas”, refere o comentador SIC.

Para o jogo deste sábado (às 19h45, na SIC), Artur Jorge não conta com três elementos: Banza e Niakaté estão nas seleções, enquanto Bruma está lesionado. Vasco Seabra, por sua vez, não pode utilizar Rodrigo Gomes, emprestado pelo SC Braga.

Vem aí uma final entre dois emblemas que deixaram boas sensações ao longo da época, com muito talento a pisar o relvado, liderados por dois homens que prezam pelo futebol ofensivo e pela vontade de ter a bola. Espera-se uma final que realmente valorize o futebol nacional e mostre ao mundo que, em Portugal, existe mais do que três equipas.