Árbitros, jogadores e treinadores vão continuar a errar, porque o processo de decisão de cada um, aquele que os leva a definir o que escolhem fazer a cada momento, é em última instância humano. E se é humano, é falível, porque os homens, todos os homens, são assim: imperfeitos.
Esta verdade parece-me muito simples de entender.
Isso não significa que o jogo não tenha mais e melhores decisões devido às ferramentas que tem agora ao seu dispor. Pelo contrário:
- É verdade que a vídeo arbitragem, a "goal line technology", o fora de jogo semi-automático e tantos outros instrumentos que as equipas de topo têm agora ao dispor permitem uma melhoria considerável na qualidade dos seus desempenhos, dando maior precisão e acerto às respetivas áreas de atuação.
Só não permitem perfeição e ainda bem que não.
Para ser incerto, emotivo e apaixonante, o jogo deve ter variáveis que fujam à sua automatização total. Muitas delas passam pela interrogação sobre o que vai acontecer a seguir, pela intuição de quem tem a bola nos pés ou pela interpretação de quem tem o apito na boca. Passam pela espontaneidade, pelo dom inato, pela ação/reação de cada um dos seus principais atores.
É no meio desses e de tantos outros imponderáveis que se destacam os melhores e mais fortes. Os mais capazes e consistentes. Aqueles que conseguem vencer mais vezes do que todos os outros, ainda que não dominando todas as circunstâncias em torno do espetáculo. Não é fantástico ganhar assim?
Sou adepto feroz da tecnologia, porque sou defensor intransigente da verdade desportiva, mas tenho plena noção que ela deve ser apenas um complemento ao trabalho de quem está em campo, não um substituto.
Por regra deve prevalecer a decisão de quem arbitra, joga ou treina. Deve prevalecer a sua competência técnica, habilidade natural e boa intenção. A sua consciência de que, a cada segundo, tudo é feito e pensado pelo melhor, para o melhor.
É possível ter jogos com grande qualidade e justiça, se o equilíbrio entre homem e máquina for idealmente atingido.
Se houver humanidade a mais e tecnologia a menos (ou o seu contrário), a coisa nunca será tão apelativa e verdadeira como gostaríamos que fosse.
Como poderia ser.
O grande desafio destes dias é exatamente esse: até onde pode ir o avançado tecnológico e qual o ponto, o momento certo para parar?
Para dizer "já chega"?