Desporto

Human Rights Watch acusa FIFA de "fechar os olhos" aos abusos dos migrantes na Arábia Saudita

Taxas de recrutamento exorbitantes impostas aos candidatos a emprego, salários não pagos, exposição ao calor extremo e restrições à mobilidade profissional estão entre os abusos identificados durante 155 entrevistas realizadas pela organização.

Human Rights Watch acusa FIFA de "fechar os olhos" aos abusos dos migrantes na Arábia Saudita
Hassan Ammar // AP

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) considerou esta quarta-feira que a FIFA "fecha os olhos" e ignora os abusos que os migrantes sofrem na construção dos projetos que envolvem a candidatura da Arábia Saudita ao Campeonato do Mundo de 2034.

Segundo a HRW, se a FIFA atribuir a organização do Mundial de futebol de 2034 à candidata única Arábia Saudita, num anúncio previsto para 11 de dezembro, terá decidido ignorar estes abusos.

"A FIFA fecha os olhos", lamenta o vice-diretor da HRW para o Médio Oriente, Michael Page.

A construção das infraestruturas necessárias ao Mundial de 2034, incluindo cerca de dez novos estádios e centenas de milhares de quartos de hotel, corre o risco de agravar as violações já documentadas, afirma a organização não-governamental.

Na sua última avaliação, a FIFA descreve a candidatura saudita como "sólida e de risco médio" e sublinha que os compromissos da Arábia Saudita em matéria de direitos humanos exigirão "um esforço significativo de tempo e energia" antes do Mundial de 2034.

Num relatório intitulado "Morre primeiro, pago-te depois", a HRW detalha condições por vezes semelhantes a trabalhos forçados, especialmente nos locais do plano de reforma liderado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Taxas de recrutamento exorbitantes impostas aos candidatos a emprego, salários não pagos, exposição ao calor extremo e restrições à mobilidade profissional estão entre os abusos identificados durante 155 entrevistas realizadas pela organização.

A pressão para cumprir prazos irrealistas agrava os riscos e "todos os dias, um ou dois trabalhadores desmaiam", disse à HRW um funcionário do projeto Neom, uma megalópole futurista que será construída entre a areia do deserto e a água salgada do mar Vermelho.

Mão de obra barata

Tal como outros países do Golfo, a Arábia Saudita tem milhões de trabalhadores indianos, paquistaneses e filipinos, que ocupam empregos manuais com baixos salários, em grande parte evitados pelos nacionais.

Apesar das reformas da legislação laboral introduzidas em 2021, os trabalhadores dizem que continuam a depender dos seus empregadores para mudar de emprego ou abandonar o país, um sistema a que a HRW chama explorador.

Entre janeiro e julho de 2024, 884 trabalhadores do Bangladesh morreram na Arábia Saudita, segundo informações obtidas pela organização, incluindo 80% por "causas naturais" não investigadas.

Segundo a HRW, estas mortes inexplicáveis, mas atribuídas a causas naturais em trabalhadores saudáveis, deixam muitas vezes as famílias sem compensação ou apoio financeiro.


Com LUSA