Há uns anos, era hábito os árbitros de futebol da Liga juntarem-se para reunir fundos destinados a pessoas com carência ou a causas sociais. Era geralmente em novembro que começávamos a trocar emails no sentido de percebermos quanto conseguiríamos angariar e que instituição/instituições iríamos apoiar.
Não havia grande regras, em boa verdade. A iniciativa era quase sempre impulsiva, mas funcionava e bem.
A malta - árbitros, árbitros assistentes e às vezes até observadores - participava de boa vontade e com enorme abertura de espírito. Ninguém dizia "estou fora, não contem comigo".
Estipulávamos um valor (geralmente maior para os chefes de equipa, por terem prémios de jogo superiores aos dos colegas de linha), definíamos data limite para efetuar a transferência e contactávamos os beneficiários, dando-lhes conta da nossa intenção.
O montante apurado, geralmente na casa dos cinco a dez mil euros, seguia para quem de direito, sem grande alarido. Tentávamos ser discretos no processo, cientes de que "solidariedade anunciada é vaidade".
Fizemo-lo várias vezes, durante vários anos.
Não sei se hoje essa (boa) prática mantém-se ou se entretanto desvaneceu-se no tempo. Se sim, é pena.
Obviamente que a época natalícia não é a única altura do ano em que nos devemos lembrar que os outros existem.
Sabemos que há muita gente que vive permanentemente no limiar da pobreza e para lá dele. Sabemos que há quem passe por grandes dificuldades para manter uma vida com dignidade mínima.
Mas não podemos negar: a quadra natalícia é especial. É especial porque apela ao sentimento, à aproximação entre as pessoas. Inspira. Humaniza.
Por isso, todos os que têm o privilégio de estar nessa grande montra que é o futebol profissional, têm obrigação moral de ajudar o próximo. Têm porque são (geralmente) bem remunerados e porque fazem parte de um mundo que preenche o imaginário de milhões. Pertencem ao sempre apetecível "mundo da bola", que atrai tanta e tanta gente. Retribuir um pouco dessa devoção, desse carinho e admiração, não devia ser opção.
Felizmente há muita gente nesta indústria ciente disso. Mais do que o caro leitor possa pensar.
Gente que tem alma muito boa e o coração no sítio certo. Estamos a falar de pessoas que ajudam voluntariamente quem mais precisa, sem anunciar, sem pedir nada em troca, sem se mascarar de solidário. Esse apoio assume várias formas, depende da necessidade em causa: donativos em dinheiro, pagamento de despesas mensais, aquisição de medicamentos, compras no supermercado, mobiliário de primeira necessidade e tanto, tanto mais.
Acontece um pouco por todo o lado, de norte a sul do país e com mais frequência do que se possa pensar. E sim, também acontece em janeiro, em abril, julho ou outubro.
É fantástico, simplesmente fantástico!
Gostava de lançar então o repto a todos os que leem esta crónica e àqueles a quem queiram fazer o favor de passar a mensagem:
Neste Natal ajudem quem precisa. Um sem-abrigo, um velhinho que pede esmola na rua, uma associação de defesa do animal, uma família em dificuldade, uma instituição carenciada, o que for.
Há várias de fazer a diferença sem esforço financeiro, sem exceder os limites de cada um. Muitas vezes, a maior oferta, a mais generosa e importante é apenas estar lá, presente, a fazer companhia ou ouvir. A conversar, a distrair, a fazer alguém sentir-se especial.
Se cada um de nós fizer a sua quota-parte, todos farão a diferença. Não tenham dúvidas disso.
Vamos pensar nisso a sério?