João Rosado

Comentador SIC Notícias

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Opinião

Farioli está muito à frente

Opinião de João Rosado. Mesmo sem qualquer título, os dragões mostram qualidade superior aos rivais.

Farioli está muito à frente
FC Porto

Nos últimos dois anos, quem teve um Viktor no plantel chegou e quase sempre partiu à frente no futebol português. Gyokeres já se mascara de Thierry Henry no Arsenal e a avaliar por aquilo que aconteceu na Supertaça, mais do que Harder, vai ser uma tarefa árdua substituir o ponta de lança sueco. Tanto mais que Luis Suárez acabou de chegar e é preciso algum tempo até o colombiano se habituar a “morder” as defesas contrárias, sendo também evidente que os leões, dê lá por onde der, não podem perder Morten Hjulmand mesmo que a Juventus se atreva a bater a cláusula de rescisão.

Enquanto Frederico Varandas reza a todos os santos para o capitão se manter fiel ao casamento com o projeto que visa o tricampeonato, o FC Porto delicia-se com o seu dinamarquês e autêntica réplica do agora adjunto Lucho González. O Victor com “c” de comandante Froholdt não se cansou de espalhar classe frente a Twente e Atlético Madrid e personifica uma movimentação no mercado que dá provas inequívocas sobre as doses extra de qualidade que chegaram ao Dragão.

NurPhoto/GETTY

Apesar de ter conquistado a Supertaça e de ter gasto (Richard) Ríos de dinheiro em reforços, nem o Benfica parece estar ao nível daquilo Francesco Farioli conseguiu extrair dos novos alunos, o que desde logo traduz um outro aspeto que deve preocupar os rivais que terminaram nos dois primeiros lugares em 2024/25.

Tratando-se de um recém-chegado a Portugal, o técnico italiano, dir-se-ia em contraponto com os “veteranos” Rui Borges e Bruno Lage, mostra uma celeridade nos resultados e nas exibições que ajuda a perceber a urgência de Sporting e Benfica em preencher as gritantes lacunas nos respetivos plantéis.

Se na Luz e em Alvalade ainda se desespera pela chegada de um extremo (e de preferência, no caso dos encarnados, capaz de brilhar como 10...), na Invicta tudo ficou atempadamente resolvido e preenchido, com o sistema tático predileto no atual milénio a ser suportado por astutas contratações.

Froholdt, do alto dos seus 19 anos e 187 centímetros, pode estar à cabeça dos tesouros de mercado, mas é justo sublinhar o acerto revelado nas restantes aquisições, sobretudo no que diz respeito ao apetrechamento do corredor central, de longe o setor que maior défice expunha.

Os ingressos de Dominik Prpic e de Jan Bednarek resolvem a falta de soluções para o eixo defensivo agravada com a despedida de Iván Marcano, ao passo que o resgaste europeu do ainda jovem Gabri Veiga (antigo companheiro de Galeno no Al-Ahli) permite ao triângulo do meio-campo corresponder a qualquer requisito de qualquer treinador. O “Major” Froholdt responsabiliza-se pela componente atlética e pela voragem na progressão, Gabri encarrega-se da suavidade e da magia nos passes, sobrando Alan Varela para carregar o piano e sobretudo o peso de uma estratégia que pede muito em termos atacantes aos defesas-laterais.

UMA AUTÊNTICA LUUK... URA

Para completar o ramalhete e para surpresa do Mundo inteiro, o velho (no próximo dia 27 festejará 35 anos) pistoleiro “Lucky” Luuk de Jong foi apresentado no último domingo, oferecendo entre outras coisas um poderio aéreo ao ataque portista que contrasta com as debilidades que tanto o citado Luis Suárez como o grego Vangelis Pavlidis exibem no jogo de cabeça.

Eurasia Sport Images

Com base naquilo que os três “grandes” têm mostrado, o FC Porto surge como o mais bem apetrechado para arrebatar o título prometido ou, melhor, exigido por André Villas-Boas quando anunciou o maior investimento da história na remodelação do balneário. Qual Rui Costa em tempo de eleições, Villas-Boas gastou até agora mais de 80 milhões de euros e sabe que, se não ganhar em maio de 2026, tem os dias mais contados que o homólogo da Luz na eventualidade de este ir a sufrágio em outubro sem o bilhete para a fase regular da Liga dos Campeões.

Na competição milionária da UEFA, na época transata, o Benfica quase bateu o recorde de Roger Schmidt e arrecadou, números redondos, 70 milhões de euros, verba que dava para comprar o passe de... Rodrigo Mora, a pérola que, pasme-se, não vai cabendo de início na máquina de Farioli.

É difícil dizer o que é mais espantoso. Se a condição de suplente do genial Rodrigo, se a operação especial que permitiu a Luuk de Jong sair de Eindhoven e aterrar em Portugal envolto em total secretismo.

Só por ter escapado aos radares de Fabrizio Romano, Villas-Boas merecia uma taça, apesar de há um ano ter começado na verdade com uma (Supertaça) que não deixou lastro na temporada.

Em Aveiro foi erguida por Vítor Bruno, o Vítor sem “c” nem “k” que em 2024 partiu mas não chegou à frente no futebol português.

FERNANDO VELUDO / LUSA