As diferenças entre o Liverpool e o Benfica estão em todo o lado. No onze, no banco e até nos não convocados. Quando Klopp viu o adversário crescer, no início da segunda parte, tirou Salah, Mané e Thiago Alcântara para pôr Diogo Jota, Firmino e Henderson. Saíram 105 M€ e entraram 103 M€.
São as soluções de um dos melhores planteis do mundo, moldado com base numa ideia, pelo mesmo treinador, ao logo de sete épocas. Tem muito para gastar, sim, mas também soube, nas primeiras temporadas, alterar as peças dando sempre lucro aos cofres do Liverpool. E contou com a paciência de uma estrutura que não o deixou cair, e continuou a dar-lhe condições, depois de quatro épocas sem qualquer título.
Por outro lado, Veríssimo viu Taarabt desastrado e fez entrar Meité que conseguiu ser igual ou pior em relação ao marroquino. É aquilo que herdou num plantel caro (para a realidade portuguesa) mas mal construído, especialmente no meio-campo. Jorge Jesus nunca teve o 8 que queria e o atual treinador ficou com o mesmo problema. E não fica por aí.
Algumas contratações dos encarnados, entre defesa e meio-campo, têm sido feitas em jogadores de qualidade, com grande currículo, mas cujas características não permitem um futebol mais agressivo e intenso (Otamendi, Verthongen, Weigl e João Mário, hoje relegado para o banco, são disso exemplos). Algo que nem precisa de ser posto a nu pelo poderoso Liverpool. Basta ver as dificuldades internas dos encarnados sempre que querem subir linhas e pressionar em cima. Sempre que necessitam de ter maior acutilância defensiva na recuperação.
Na próxima época, ao que tudo indica, Roger Schmidt será o treinador. Um adepto do futebol vertical e do tal rolo compressor que tem sido tão falado na imprensa portuguesa. Mas não se pense que o alemão poderá agarrar nas mesmas peças e mudar tudo. Não há rolo compressor sem jogadores que o possam ligar. E o atual plantel das águias não permite esse estilo
Aqui estarão em causa mesmo alguns dos melhores jogadores deste Benfica como parte dos acima mencionados. Já para não falar de outros que acabaram por ser erros de casting, tanto num futebol ofensivo como numa abordagem mais conservadora: Lazaro e Radonjic, ambos emprestados, Meité, que custou 6M€, e Gil Dias, pensado por Jesus para lateral-esquerdo, mas nem sequer com hipótese a extremo, sua posição de origem.
Na Luz, como noutros clubes portugueses, não há petróleo e as mudanças têm de ser feitas com calma. O tal tempo que Klopp conseguiu antes de conquistar uma Champions e uma liga inglesa que fugia há três décadas. Tempo dado ao longo de vários mercados até a máquina estar devidamente afinada. O Benfica, à sua escala, pode não precisar de tanto para celebrar títulos nacionais. Mas se hoje tem uma ideia maturada, e se essa ideia passa por Roger Schmidt, também não deverá pôr o alemão em causa aos primeiros sinais de insucesso. Até porque não lhe pode dar tudo de uma vez e exigir resultados para ontem.