Economia

Conselho de Finanças Públicas estima menos défice do que Governo e excedente a partir de 2020

O Conselho de Finanças Públicas (CFP) estima um défice de 1%, em 2017, e de 0,7%, em 2018, abaixo dos previstos pelo Governo, assumindo que, com as políticas em vigor, Portugal terá um saldo orçamental positivo já em 2020.

Teodora Cardoso presidiu ao Conselho das Finanças Públicas (CFP) desde fevereiro de 2012 até março de 2019
Teodora Cardoso presidiu ao Conselho das Finanças Públicas (CFP) desde fevereiro de 2012 até março de 2019
TIAGO PETINGA / LUSA

No relatório Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2018-2022 divulgado hoje, o CFP projeta um défice de 1% em 2017, de 0,7% este ano e o último em 2019, de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB).

A partir de 2020, de acordo com as projeções do Conselho, Portugal passa a ter um excedente orçamental, de 0,1% nesse ano, de 0,8% em 2021 e de 0,6% do PIB em 2022.

De acordo com o primeiro-ministro, António Costa, o défice orçamental deverá ficar perto dos 1,1% em 2017 (o valor é divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística na final da próxima semana) e dos 1,1% este ano, tendo em consideração as medidas de resposta aos incêndios.

Este é um cenário que "há muito pouco tempo consideraríamos impossível", admitiu a presidente do CFP, Teodora Cardoso.

Em setembro, na atualização do relatório Finanças Públicas: Situações e Condicionantes 2017-2021, o CFP previa um défice orçamental de 1,4% do PIB em 2017, de 1,3% em 2018, de 1% em 2019, de 0,8% em 2020 e de 0,2% em 2021.

Teodora Cardoso explicou que a melhoria das projeções orçamentais está "muito ligada" ao cenário macroeconómico. Depois de um crescimento económico de 2,7% no ano passado, o CFP estima que o PIB avance 2,2% este ano (o mesmo que o antecipado pelo Governo), 1,9% em 2019, 1,7% em 2020 e 2021 e 1,6% em 2022.

Se a recuperação económica permitiu um aumento das receitas (sobretudo impostos indiretos) e uma diminuição dos custos com prestações sociais (principalmente com subsídio de desemprego), o controlo das despesas "superior ao que estava previsto inicialmente" também permitiu melhorar o saldo orçamental do ano passado e que acaba por ser um "melhor ponto de partida" para outros anos.

"Houve uma coisa que ficou marcada em 2017 que foi uma vontade política de efetivamente controlar as despesas e controlar o défice orçamental. E nesse sentido aí foi a viragem que no fundo suscitou a melhoria de confiança", afirmou Teodora Cardoso.

Nas projeções que divulgou hoje, que assumem um cenário de políticas invariantes (apenas as que já foram legisladas), o CFP tem em consideração uma redução das despesas com pessoal que advém da regra de entrada de trabalhadores da Administração Pública (que em 2018 estipula a necessidade de saírem três trabalhadores para que entrem dois, a chamada regra '3 por 2', quando até aqui a regra era de '2 por 1').

"É uma regra que tem variado ao longo do tempo, mas se há coisa que não tem acontecido, é que não tem sido cumprida. Nós incorporamos essa regra [nas projeções] . Se ela se cumpre ou não é um risco", disse Teodora Cardoso.

O CFP tem em consideração ainda as poupanças que advêm do chamado 'wage drift', ou seja, a diferença salarial entre os trabalhadores que saem para aposentação em final de carreira e aqueles que entram, que em contrapartida são pessoas em início de carreira e com salários mais baixos.

Segundo Teodora Cardoso, as despesas com pessoal vão continuar a reduzir-se por "mais dois anos e é preciso aproveitar isto, para ter uma política de recrutamento e de carreiras que não seja a do passado".

Entre outros fatores positivos considerados pelo CFP está a redução das despesas com juros, resultante da menor taxa de juro e da redução da dívida pública.

O CFP estima ainda um défice estrutural de 1,1% do PIB em 2017, uma melhoria de 1,1 pontos percentuais do PIB face a 2016, "o que corresponde a um ajustamento superior ao requerido no âmbito da vertente preventiva do Programa de Estabilidade e Crescimento (que era de uma redução de 0,6 pontos).

Já no que diz respeito à dívida pública, o CFP estima que o rácio da dívida pública desça de 125,6% em 2017 para 123% em 2018, para 119,4% em 2019, para 116,4% em 2020, para 109,9% para 2021 e para 106% em 2022.

As projeções do CFP não têm em consideração o eventual impacto da recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que ainda está em discussão pelo Eurostat, mas, segundo Teodora Cardoso, "não irá implicar [subida do] défice mas terá implicações na dívida".

Lusa