Economia

Administradores da CGD receberam bónus mesmo com resultados negativos

Segundo o documento, só em sete operações o valor chega a mais de mil milhões de euros, num período até dezembro de 2015.

Administradores da CGD receberam bónus mesmo com resultados negativos

Os administradores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) receberam "remuneração variável" e "voto de confiança", mesmo com resultados negativos, de acordo com a auditoria da EY à instituição relativa ao período 2000-2015.

O documento, que foi revelado na CMTV por Joana Amaral Dias e depois noticiado em vários órgãos de comunicação, é crítico, sobretudo, do período 2000-2008 em que "não foi obtida evidência dos princípios orientadores para a remuneração variável aplicada, concluindo-se que as decisões foram tomadas de forma avulsa. Mesmo perante resultados negativos foi decidido atribuir remuneração variável e emitido voto de confiança".

A auditoria realçou ainda que "em nenhum momento foi identificada a atribuição de remunerações variáveis em forma de instrumento financeiro" que incentivassem a um equilíbrio entre capital e riscos, nem a implementação de cláusulas de 'clawback', que permitem vincular os gestores com as decisões passadas.

A EY acredita que estas medidas poderiam ter contribuído para um "processo de decisão de crédito mais sustentado e atento ao risco, tendo por referência as operações analisadas na presente auditoria", permitindo ainda apurar responsabilidades "nas perdas significativas verificadas entre 2011 e 2015", lê-se no documento.

A consultora revelou ainda que "o volume de imparidades da CGD evoluiu de 46,9% em 2013 para 58,1% em 2015" no setor da construção e imobiliário. Os restantes bancos todos apresentaram a situação inversa, reduzindo as imparidades na concessão de crédito às empresas deste segmento.

A EY analisou várias operações de concessão de crédito da CGD e concluiu que muitas delas foram concedidas sem uma análise de risco aprofundada, incluindo "operações aprovadas com parecer de risco desfavorável ou condicionado" pela Direção de Gestão de Risco do banco.

A consultora contabilizou ainda algumas operações que considerou terem resultado num aumento da exposição considerado elevado ou grave da CGD.

Segundo o documento, só em sete destas operações o valor chega a mais de mil milhões de euros, num período até dezembro de 2015.

Uma destas operações está relacionada com a compra de ações da Cimpor pela Investifino, que deu ações do BCP e da Cimpor como garantia à CGD.

Com a desvalorização destas ações, o negócio não foi bom para o banco do Estado, segundo a EY, tendo havido necessidade de "reestruturar a dívida".

Lusa