Economia

Banco central dos EUA não dá sinais de travar estímulos. Diz que economia continua a depender do curso da pandemia

A Reserva Federal dos Estados Unidos reafirmou esta quarta-feira, depois de uma reunião de dois dias, a sua disposição em "usar toda a gama" de armas monetárias para apoiar a expansão da economia norte-americana. Apesar dos bons indicadores económicos, o banco central diz que a subida da inflação para mais de 5% é transitória e que o andamento futuro da maior economia do mundo continua a "depender do curso do vírus"

Banco central dos EUA não dá sinais de travar estímulos. Diz que economia continua a depender do curso da pandemia
Fairfax Media

O banco central dos Estados Unidos, depois de uma reunião de dois dias, manteve, por unanimidade, o rumo da política monetária de estímulos, sem dar, ainda, sinais de quando iniciará a sua descontinuação, apesar de reconhecer que os indicadores económicos da primeira economia do mundo continuam "a fortalecer-se". No comunicado da Reserva Federal (Fed) publicado esta quarta-feira, refere-se que "os riscos se mantêm" e que o andamento da economia norte-americana "depende do curso do vírus". Por isso, a Fed "está empenhada em usar toda a gama de instrumentos para apoiar a economia dos Estados Unidos".

O banco central norte-americano reafirma, por isso, que mantém "a política acomodatícia até que os objetivos sejam atingidos", o que inclui, desde a revisão estratégica concluída em agosto do ano passado, a admissão de que a inflação poderá estar "moderadamente acima de 2% por algum tempo" para que o objetivo de uma média de 2% seja alcançado. Os banqueiros centrais norte-americanos decidiram, por isso, manter o ritmo de aquisição de ativos em 120 mil milhões de dólares por mês (mais de 100 mil milhões de euros) e não mexer na taxa diretora que está num intervalo mínimo entre 0% e 0,25%.

Os analistas admitem que a Fed poderá começar a clarificar a sua estratégia futura de redução dos estímulos na próxima reunião em setembro, quando serão publicadas as previsões para a inflação e o crescimento por parte dos banqueiros centrais. Há, também, alguma expetativa em relação à intervenção de Jerome Powell, o presidente da Fed, no simpósio anual de Jackson Hole, que se realiza, este ano, entre 26 e 28 de agosto. Na conferência de imprensa em Washington, que se seguiu à publicação do comunicado, Powell não revelou nada sobre o que dirá em Jackson Hole e vincou que "não vai sugerir nada sobre o calendário da redução dos estímulos, tanto mais que não há nenhuma decisão tomada". O chefe da Fed frisou, ainda, que se está "longe de uma subida das taxas de juro", e que esse assunto "não está agora no nosso radar".

Longe do surto inflacionista dos anos 70 e 80

Apesar da inflação estar acima de 5% há dois meses, a Fed continua a considerar que essa subida é devida a "factores transitórios". Durante a conferência de imprensa que se seguiu, o presidente da Fed destacou que "não observa uma pressão altista nos preços num espectro amplo de bens e serviços" e precisou que "houve um aumento de preços provocado por problemas na oferta, mas não está em curso um processo de inflação" como aconteceu no período do disparo da inflação acima de 6% entre 1973 e 1982, com um pico de 14% em 1980. O "conceito de transitório", disse Jerome Powell, significa "que não fica uma marca permanente no processo de inflação". No entanto admitiu que a inflação vai estar alta nos próximos meses e que poderá "ser mais persistente do que o esperado".

Os indicadores económicos têm mostrado uma economia em franca expansão. O índice de confiança dos consumidores, divulgado esta semana, subiu de 128,9 em junho para 129,1 em julho, o nível mais elevado desde fevereiro de 2020, antes do início da pandemia. Na quinta-feira, o Departamento de Comércio divulga o crescimento do Produto Interno Bruto no segundo trimestre deste ano, esperando-se a continuação da trajetória de recuperação.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou esta semana a previsão de que a economia norte-americana deverá crescer 7% este ano, o terceiro crescimento mais elevado entre as grandes economias, depois da Índia e da China. Mas, apesar disso, o FMI recomendou que o banco central não aperte prematuramente a política monetária, ainda que admitindo que, num cenário de subida persistente da inflação, a Reserva Federa se veja obrigada a fazê-lo, o que constitui um risco para toda a economia mundial, salientou o relatório do Fundo.

Juros da dívida em trajetória de queda desde o pico em março

A unanimidade entre os banqueiros centrais norte-americanos, nas últimas reuniões, para não ceder às pressões de sinalizar o começo da descontinuação dos estímulos, reforçou a trajetória de queda dos juros da dívida norte-americana depois de máximos do ano em março. A taxa no mercado dos títulos do Tesouro a 10 anos caiu de um pico de 1,7% em março para 1,47% no final de junho e prosseguiu a queda, registando esta quarta-feira 1,25% aquando da publicação do comunicado da Fed. Após a conferência de imprensa, os juros desceram para 1,23%.

O mercado bolsista tem continuado a estar em alta. O índice MSCI para o conjunto dos índices das bolsas de Nova Iorque regista uma subida de 2,4% este mês, largamente destacada da média mundial de 0,34% e do comportamento medíocre das bolsas da zona euro, com uma variação de apenas 0,1%. A alta nas bolsas de Nova Iorque contrastam com a queda de quase 6% na Ásia, em particular nas bolsas chinesas.