O Tesouro colocou esta quarta-feira 1000 milhões de euros em dois leilões de obrigações de longo prazo, um tipo de operações que já não fazia desde julho.
Apesar de a Assembleia da República ter sido dissolvida e de estarem convocadas eleições para janeiro do próximo ano, o Estado conseguiu esta quarta-feira, menos de duas semanas depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2022, endividar-se pagando menos no prazo a 10 anos e ligeiramente mais no prazo a 16 anos.
As taxas de remuneração pagas nos dois leilões estão em sintonia com as observadas no mercado secundário, onde os investidores transacionam os títulos.
A mesma tendência registou-se na terça-feira na emissão de dívida a 10 anos pelo Tesouro norte-americano. que pagou 1,444%, abaixo de 1,584% na operação anterior. Também a Alemanha colocou esta quarta-feira dívida a 10 anos pagando uma taxa mais negativa do que na operação anterior: o Tesouro germânico pagou -0,29% estas quarta-feira face a -0,16% na operação anterior. Quanto mais próxima de zero, mais alta é a taxa paga aos investidores.
Lagarde rejeitou subida das taxas em 2022, e os juros desceram
O Tesouro português colocou 686 milhões de euros no título que vence em 2031 (e que serve de referência ao prazo a 10 anos) pagando esta quarta-feira 0,314%, abaixo de 0,397% pago no leilão realizado a 11 de junho. Esta taxa mais baixa era expetável depois de os juros no mercado secundário (yields) terem descido de um pico de 0,6% a 1 de novembro para 0,3% no fecho da sessão de terça-feira.
As taxas registaram um pequeno aumento depois de Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), ter adiantado na conferência de imprensa após a reunião do banco a 28 de outubro, que o programa de emergência de compra de dívida, conhecido pela sigla em inglês PEPP, seria descontinuado em março do próximo ano, depois de uma redução mensal progressiva dos volumes de aquisição nestes dois trimestres.
Entretanto, Lagarde arrefeceu a especulação nos mercados avisando, aquando da vinda a Lisboa, a 3 de novembro, aos 175 anos do Banco de Portugal e ao Conselho de Estado, que era de todo improvável subir as taxas diretoras do banco já em 2022.
Um inquérito publicado pelo BCE, que recolhe regularmente a opinião dos analistas, revelou, esta semana, que as previsões destes especialistas apontam para a descontinuação dos programas de compras lançado em 2014 e 2015 apenas em dezembro de 2023 e para as primeiras subidas das taxas diretoras do banco em junho de 2024. Os juros no mercado regressaram à trajetória descendente. Estão, atualmente, em 0,32% a 10 anos.
No leilão da obrigação a vencer em 2037, o Tesouro pagou 0,622%, ligeiramente acima da taxa de 0,609% paga em 16 de julho.
A procura foi, no entanto, inferior à registada nos leilões anteriores. A 10 anos, a procura foi 1,46 vezes superior à colocação, face a 1,5 vezes em junho; e, no prazo mais longo, a procura foi de 2,1 vezes, inferior a 2,49 registada no leilão anterior em julho.
Portugal continua a emitir com taxas historicamente baixas
"O resultado de ambos os leilões mostra que o prémio de risco de Portugal continua a ser apenas impactado pelo movimento das dívidas soberanas europeias. O Banco Central Europeu iniciou o processo de abrandamento de compras no programa de compras de emergência pandêmica, que levou numa fase inicial a uma subida de yields, mas que parece ter estabilizado", refere Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa.
O mesmo especialista adianta que "se esperam taxas mais elevadas para 2022, mas que tal irá depender da atuação do BCE, bem como do desempenho das economias". "Apesar de tudo Portugal continua a emitir com taxas historicamente baixas e que muito têm contribuído para a diminuição do custo médio da dívida portuguesa", conclui Filipe Silva..