Economia

Há gestão dolosa na insolvência da Dielmar? A dúvida foi levantada por credores e vai ser investigada

O juiz responsável pelo processo de insolvência da têxtil de Alcains abriu um “incidente de qualificação de insolvência”. Na base do pedido estão os relatórios de auditoria da Deloitte às contas da Dielmar.

Pode ter havido gestão dolosa na falência da Dielmar? Um conjunto de mandatários dos credores da empresa, que entrou em insolvência em agosto, com dívidas superiores a 16 milhões de euros, metade das quais ao Estado, tem dúvidas e quer esclarecer este ponto. Por isso, solicitaram ao juiz a qualificação da insolvência (como fortuita ou culposa).

Assim, o mais recente ato do juiz neste processo foi a abertura de “incidente de qualificação de insolvência” que é irrecorrível. A etapa seguinte era determinar se houve gestão dolosa na empresa e, no caso de a insolvência ser qualificada como culposa, “os administradores responsáveis respondem com o seu património pessoal por todas as dívidas e ficam inibidos de praticar atos de comércio até seis anos”, explica ao Expresso fonte do processo.

Mais: normalmente, quando se considera que a insolvência é culposa, "o Ministério Público extrai certidão e manda o caso para o DIAP, para ser investigada uma eventual gestão danosa", acrescenta essa fonte.

Siza Vieira foi o primeiro a falar numa "gestão muito pouco clara"

Neste processo, a administração da Dielmar alegou as alterações de mercado decorrentes da pandemia para explicar a insolvência, mas o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, fez questão de deixar claro que os prejuízos começaram há 10 anos e "os dinheiros públicos servem para apoiar empresas, para salvaguardar os ativos das empresas, não servem para salvar empresários", sem esquecer uma referência à “gestão muito pouco clara da Dielmar”, onde o Estado tem uma participação de 30% no capital e é dono das suas instalações.

A verdade é que as auditorias da Deloitte às contas “apontam deficiências na contabilidade”, os relatórios do representante do Estado ao longo dos últimos anos “têm sido demolidores” para a gestão e o relatório do administrador de insolvência também questiona a contabilidade da empresa, refere a mesma fonte.

Mais um processo para o Tribunal Arbitral resolver

Neste momento, a hipótese de uma segunda vida para a Dielmar e os seus mais de 200 trabalhadores está suspensa uma vez que a solução negociada pelo Governo com o grupo Valérius, votada favoravelmente pela maioria dos credores, mas não pela Segurança Social nem pela CGD, acabou por cair e tudo voltou à estaca zero por decisão do juiz, confrontado com a apresentação de duas novas propostas para a empresa, de valor superior.

Entretanto, apurou o Expresso, foi acionado um processo em tribunal arbitral do Estado, através do Fundo Autónomo de Apoio à Concentração e Consolidação Empresarial (FACCE), contra a Dielmar, tendo por base o acordo parassocial entre este Fundo e os sócios da Dielmar, que se tinham comprometido a recomprar o imóvel.