Economia

Cerveja. Há novas regras para o sector e tudo promete ser consensual

O sector cervejeiro pediu há quatro anos a alteração das "regras obsoletas" que regulamentam a produção, comercialização e rotulagem de cerveja. O primeiro passo "para adequar o quadro legal à realidade foi dado agora", comenta Francisco Gírio, da associação Cervejeiros de Portugal.

Há mudanças em curso no sector cervejeiro. "Já era tempo de adequar as regras com as quais as empresas trabalham à realidade atual", comenta Francisco Gírio, secretário-geral da associação APCV - Cervejeiros de Portugal, na sequência da aprovação, em Conselho de Ministros, da alteração do regime jurídico relativo às características e regras de produção, denominação legal, comercialização e rotulagem de cerveja.

"O sector já tinha solicitado ao Governo a alteração da portaria que regula a produção, comercialização e rotulagem de cervejas em Portugal há quatro anos. Estamos a falar de uma portaria com 20 anos, obsoleta, desadequada da realidade, até porque quando foi redigida não havia, por exemplo, cervejas artesanais", comenta.

Na sequência de negociações entre cervejeiros e Governo, o processo foi avançando, teve luz verde de Bruxelas e, agora, "dá um passo decisivo". Nesta fase, explica Francisco Gírio, está em causa "a adequação ao regime jurídico das contraordenações económicas" e os "regimes sancionatórios e de fiscalização aplicáveis à violação das normas que regem as atividades de fabrico, rotulagem e comercialização das cervejas e permitem, por exemplo, a atuação da ASAE, uma entidade inexistente há 20 anos atrás".

Falta ainda, no entanto, a portaria que revê o Decreto Lei que regulamente o sector e essa é para Francisco Gírio a única sombra no cenário atual. "A portaria tem de sair rapidamente e acredito que seja assim. Se isso não acontecer pode ser problemático, porque está criado um regime sancionatório atualizado para um sector que ainda tem um enquadramento obsoleto", justifica.

O que tem de mudar

O facto de a legislação em vigor para a cerveja ser da década de 1990 e prever apenas a produção a partir de malte ou da combinação de malte e cevada quando atualmente há vários estilos, nomeadamente nas versões artesanais, que adicionam produtos locais e extratos de fruta, é um dos fatores que obrigam o Governo a acelerar a publicação da nova portaria negociada com o sector no que respeita a características e regras de produção, denominação legal, comercialização e rotulagem de cerveja.

Outro exemplo do que ainda terá de ser mexido é a dimensão da embalagem. A portaria em vigor especifica determinados volumes de embalagem para a cerveja portuguesa e as novas regras prometem dar mais opções aos produtores, até porque do lado da importação já vão entrando outros tamanhos no país.

"Resta, agora, aguardar que a nova portaria saia em breve para não haver desfasamento entre o regime sancionatório e as regras com as quais temos legalmente de trabalhar. Acreditamos que será assim", afirma Francisco Gírio, garantindo que tudo o que foi negociado é "consensual para todos os agentes do sector, sejam os grandes grupos cervejeiros ou os pequenos produtores artesanais".

O Expresso contactou os dois principais grupos cervejeiros do país, o Super Bock Group e a Sociedade Central de Cervejas, que em conjunto têm uma quota próxima de 90% no mercado nacional, mas ambos remeteram para a associação que representa o sector.

As estatísticas da associação Cervejeiros de Portugal indicam que a produção total de cerveja em 2020 ficou nos 659 milhões de litros, 7,3% abaixo de 2019, com as vendas a caírem 15%, e o consumo no mercado doméstico a totalizar 469 milhões de litros. As exportações subiram 9%, para 194 milhões de litros.