Economia

Roupa, semicondutores, produtos eletrónicos e testes covid-19 duplicam custos do transporte aéreo de mercadorias

É Natal e a troca de presentes está a pressionar ainda mais o transporte de bens entre os grandes países produtores e consumidores, segundo o "Financial Times" desta segunda-feira. Com os portos ainda congestionados e sem capacidade disponível, os preços do transporte aéreo de carga em algumas rotas intercontinentais quase duplicaram

Os custos de transportar mercadorias por avião quase duplicou poucos dias antes do Natal, havendo já uma discrepância perto dos 20 pontos percentuais entre a procura e a oferta de espaço disponível, de acordo com o "Financial Times" desta segunda-feira. Entre os bens que estão a ser distribuídos por via aérea estão produtos de moda e eletrónica de consumo - em grande crescimento devido à troca de presentes da quadra festiva - partes de automóveis, semicondutores, e materiais relativos ao combate à pandemia da covid-19 como testes.

De acordo com o jornal britânico, havendo escassez de contentores e estando os portos entupidos com o súbito recuperar da procura depois dos confinamentos do início da pandemia em diversos países, as empresas estão a utilizar o transporte aéreo para ligar os grandes produtores - com a China à cabeça - com os grandes consumidores - o Ocidente, principalmente os Estados Unidos e a Europa.

Nos últimos meses, os preços da rota Xangai-América do Norte subiram de 8 dólares por quilograma no fim de Agosto para os 14 dólares na semana passada, um recorde acima dos 12 dólares registados em 2020, altura em que os aviões ficaram, em simultâneo, em terra. E outras rotas Ocidente-China, tal como ligações Europa-América do Norte, viram subidas de preços semelhantes.

Isto porque a procura disparou e está 6% acima dos valores de 2019 para este período, ao passo que a capacidade disponível está 13% abaixo dos valores pré-pandemia, uma discrepância que ronda os 19 pontos percentuais, de acordo com dados da Accenture citados pelo "Financial Times".

Muitas empresas de logística estão a operar com aviões que transportam exclusivamente carga quando em tempos normais metade da carga transportada em todo o mundo "acompanha" os passageiros, muitas vezes em voos intercontinentais. Estando muitos destinos de longo-curso ainda fechados ou a meio-gás - e alguns ameaçados pelo recrudescer da pandemia com o aparecimento de variantes como a Ómicron - a capacidade disponível cai. Mesmo com o regresso dos voos transatlânticos para passageiros, estes acabam por roubar muito do espaço disponível para carga devido ao transporte de bagagem, explicam especialistas da área ao jornal londrino.

Os custos logísticos têm vindo a disparar com a recuperação rápida do consumo após os piores meses da pandemia, quando milhões de pessoas tiveram de ficar confinadas para frenar a disseminação do vírus. O aumento dos preços ajudou a que a inflação em diversos países ocidentais acelerasse para máximos de várias décadas e está a afetar indústrias portuguesas como a da construção civil e da indústria têxtil, entre outras. Entretanto, dias antes do Natal e rumo às eleições, o Governo diz que não haverá risco de rutura de stocks nos produtos mais procurados pelos portugueses, como o sacrossanto bacalhau.