Abel Mateus revela-se apreensivo com a dependência europeia do gás russo, não antevendo uma solução no médio prazo. “Esta dependência da Europa do gás natural russo é algo extremamente complicado, que está a ser utilizado pela Rússia não só em termos de subida de preços, mas também em termos políticos e geoestratégicos”, afirma o economista em entrevista à Lusa.
O atual presidente do conselho consultivo da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social considera que este é “um problema gravíssimo”, para o qual não antevê “solução no curto, nem no médio prazo, porque é um problema de 10, 15 anos e a Europa ainda não pensou como é que vai resolver a questão”.
Questionado sobre a subida dos preços da energia, que tem contribuído para o aumento da inflação na zona euro, Abel Mateus acredita que poderá haver uma descida este ano, mas alerta também para o impacto de “toda a política ambiental de descarbonização da Europa acelerada em relação ao resto do mundo”.
A escalada de tensão entre a Rússia e a Ucrânia está a levantar preocupações sobre o fornecimento de gás russo à Europa, numa altura em que os preços da energia dispararam na zona euro.
- “No caso de um conflito bélico, imaginemos a crise energética que poderá haver no petróleo e no gás”
Recentemente, a Comissão Europeia estimou que os preços energéticos, nomeadamente da luz e do gás, estejam “perto do pico” na União Europeia (UE), esperando uma estabilização a partir de meados deste ano, quando deverá também aliviar a inflação.
“Os preços da energia estão a flutuar a um nível elevado, mas os indicadores demonstram que o pico está próximo”, prevê o executivo comunitário, nas previsões macroeconómicas intercalares de inverno publicadas em 10 de fevereiro.
Em altura de crise energética, motivada pelos problemas de fornecimento e pelas tensões geopolíticas, Bruxelas aponta no documento que “os preços da energia continuarão a ser um motor fundamental da dinâmica da inflação em 2022”.