O Banco Central de Inglaterra anunciou na manhã desta quarta-feira uma operação para compra de dívida com maturidades maiores. A autoridade monetária revela ainda que "as operações serão realizadas em qualquer escala que seja necessária".
Esta intervenção visa “estabilizar o mercado” e impedir uma subida maior dos juros, numa altura em que os investidores estão a exigir mais de 5% para financiar o tesouro britânico.
Tecnicamente, quando os juros sobem muito, o país pode entrar em dificuldades de pagamento aos investidores e precisar de ajuda extraordinária.
“Situação muito complicada porque o novo Governo do Reino Unido decidiu cortar substancialmente nos impostos, tanto das empresas como das famílias, e isso pode ter como intenção reanimar a economia, mas teve uma leitura imediata por parte dos investidores que foi este corte não está acompanhado de uma garantia de que o Estado britânico terá receitas por outra dívida, então o défice é financiado por nova dívida, ora se assim é aumenta ainda mais a dívida que já tem e provoca um desequilíbrio enorme”, explica José Gomes Ferreira.
E para a Europa, qual é o risco que esta intervenção do Banco Central de Inglaterra tem? “Tem um grande risco. Aquilo que na Europa estamos a viver é uma situação em que houve um ensaio de subida das taxas de juro dos países chamados periféricos - mais endividados -, nomeadamente a Grécia, Portugal a própria Itália e a Espanha, isto foi há cerca de seis a oito meses quando se começou a perceber que a inflação era bastante forte e tinha que se tomar medidas subindo os juros do BCE e a partir daí os especuladores pensaram ‘espera lá se os juros vão subir no BCE, então os países mais endividados vão ter dificuldades de financiamento’ e começaram eles próprios a exigir mais dinheiro para emprestar a Portugal, à Grécia, à Espanha e a Itália”.
Nessa altura, lembra José Gomes Ferreira, “a senhora Lagarde (presidente do BCE) fez um erro enorme que foi dizer 'não, não eu tenho é que me preocupar com a média da zona euro e, portanto, os juros têm que subir. Dando a ideia de que iria deixar cair os países mais frágeis, o que é que aconteceu? Começaram a subir os juros desses países e ela a seguir teve que vir a correr anunciar que iria criar um mecanismo anti-fragmentação: anti-separação de alguns países da zona euro, que iriam ficar expostos (…) mas esse mecanismo teve que ser reapreciado pela Alemanha porque poderia representar que países mais ricos estavam a financiar outros".
Ainda esse mecanismo foi aprovado embora ainda “ninguém sabe bem como funciona”. A verdade é que, sublinha, dá “uma relativa segurança”.
José Gomes Ferreira reitera, porém, que esta questão do Reino Unido é “importante” porque se passa "às portas da Europa, [o Reino Unido] tem relações comerciais com a Europa, e nomeadamente com Portugal. Portanto é preciso olhar com muito atenção porque não está garantido que haja uma separação entre uma realidade e a outra”.