Economia

Análise

Inflação: "Quando Lagarde fala, não fala para os portugueses"

O economista e comentador SIC João Duque não concorda que se ataque as declarações de Christine Lagarde que, na sua ótica, fala e trabalha para o "corpo da zona euro" e não para as especificidades de Portugal.

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João Duque, economista e comentador da SIC, analisa o recuo da taxa de inflação em junho em Portugal e afirma que Christine Lagarde não fala para os portugueses quando insiste na subida das taxas de juro.

A taxa de inflação voltou a recuar em junho em Portugal para 3,4%. Contas feitas são menos 0,6% pontos percentuais em relação ao mês anterior, maio, e é a mais baixa desde janeiro do ano passado. No entanto, Portugal continua com um valor bastante acima de Espanha.

Mas João Duque relembra que cada país é um caso e que as notícias devem ser encaradas de forma positiva.

"Cada país tem as suas particularidades, mas são boas notícias e estamos a caminhar no sentido que é desejado e estamos abaixo da média da União Europeia, por isso estamos a caminhar a passos mais acelerados. Isto significa que, aparentemente, as medidas que são tomadas já se aplicam cada vez menos ao território português uma vez que nos estamos a aproximar do ideal mais depressa que os outros", explica o economista.

Estando abaixo da média da zona euro, as medidas tomadas pelo Banco Central Europeu, que já foram criticadas por António Costa, deixam de ter muito sentido. Porém, Portugal não tem expressividade económica para impactar a mudança das políticas monetárias europeias.

"Somos uma pequena economia, que tem uma inexpressão na União Europeia, nós pesamos 2,3% em termos de PIB e, portanto, não temos peso para fazermos, pela nossa descida, arrastar de forma tão rápida a zona euro para que possamos estabilizar as taxas de juro e trilhar um caminho diferente. De facto sentimos o aperto das taxas de juro", expõe o comentador SIC.

António Costa esclareceu esta quinta-feira que é importante o BCE fazer bem o “diagnóstico" para acertar os passos a tomar no futuro no que diz respeito à inflação.

Esta afirmação do primeiro-ministro chegou após as declarações de Lagarde que, no segundo dia do Fórum Anual do BCE, foi categórica quando apontou para as margens de lucros das empresas para os aumentos salariais como causas da crise inflacionista.

A presidente do Banco Central Europeu voltou a pedir moderação, desta vez, aos Governos, na atribuição de apoios.

Para João Duque, este discurso é normal, tendo em conta que não se dirige a países específicos mas a toda uma zona que precisa de recuperação.

“A receita é para um corpo, um corpo que é a zona euro e, portanto, quando a senhora Lagarde fala não é para os portugueses, ela fala para os consumidores e governos europeus, ela tem uma preocupação que é a estabilidade dos preços da zona euro e isso consegue-se através da subida das taxas de juro. Nem todos os países estão na mesma condição”, conclui.