Quase 5% das famílias portuguesas, cerca de 70.000, estão em risco de gastar mais de metade do salário com o crédito à habitação. Este valor representa quase o dobro do que se registava há dois anos. Estes dados são avançados pelo jornal Público, que cita estimativas do Banco de Portugal. Natália Nunes, coordenadora do gabinete de proteção financeira da DECO Proteste faz o retrato, na SIC Notícias, destes portugueses que se têm visto obrigados a pedir ajuda.
Esta situação é provocada pela subida das taxas de juro, que está a colocar cada vez mais famílias em sobrecarga financeira. Em maio, o Banco de Portugal previa que quase 20% das pessoas com crédito à habitação tivesse uma taxa de esforço superior a 40% no final deste ano.
Natália Nunes, começa por ressalvar que muitas destas inúmeras famílias têm outros créditos, para além do crédito à habitação, que também terão “um grande impacto nos orçamentos e naquilo que é a taxa de esforço”.
“O que nos permite retirar é que o número de famílias que têm taxas de esforço com todos os créditos será muito superior [a 70.000]. Haverá muitas mais famílias em situação de dificuldade no final deste ano”.
A coordenadora acredita que se a DECO não tivesse vindo a fazer apelos em relação à situação financeira de muitos portugueses e se várias medidas não tivessem sido adotadas - por exemplo, a renegociação dos créditos -, “o número de famílias em dificuldades seria muito mais elevado do que este [70.000]”.
Refere que os dados divulgados pelo Banco de Portugal “vêm dar eco” às posições adotadas pela DECO, que tem defendido mais apoios para as famílias com dificuldades financeiras e uma maior abertura por parte da banca na hora de “encontrar soluções".
Pedidos de ajuda chegam de pessoas que recebem, em média, 1.500 euros líquidos
Natália Nunes faz um retrato das famílias que integram este leque e explica que os agregados familiares que enfrentam maiores desafios são aqueles que possuem crédito à habitação com taxa variável e lembra que mais 90% das famílias estão abrangidas por esta taxa.
Informa ainda que a DECO tem recebido pedidos de ajuda de famílias que têm taxas de esforço superiores aos 60%, rendimentos líquidos mensais na ordem dos 1.500 euros e que, em regra, têm um menor de idade.
“Quando falamos em 60% estamos a falar não apenas do peso que o crédito à habitação tem no rendimento líquido mensal, mas sim no somatório de todas as prestações com crédito. É esta a taxa de esforço que deve ser tida em conta”.
Muitos portugueses equacionam vender a casa
Adianta ainda que os agregados familiares que têm apresentado pedidos de ajuda à DECO, na generalidade, ainda não entraram em incumprimento, pois têm vindo a recorrer às poupanças pessoais, aos apoios da família e de amigos e a cartões de crédito.
“A banca deveria ter mais abertura do que aquela que tem demonstrado e todos os dias verificamos situações de famílias que nos dizem que contactaram a banca, que lhe deram a conhecer a sua situação de dificuldade e que não obtêm uma resposta satisfatória”.
Natália Nunes afirma que vários portugueses ponderam já vender as suas habitações porque “não têm condições para pagar o crédito”.