As dificuldades no acesso à habitação estão a agravar-se. Portugal é o país da União Europeia (UE) onde a diferença entre os preços das casas e os rendimentos das famílias é maior. Bruxelas avisa que o número de pessoas sem-abrigo está a aumentar a um ritmo nunca antes visto.
A crise habitacional que o país atravessa está a agravar-se, com a casa a ser um bem inacessível para muitas famílias. Os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgados pelo jornal Público, mostram que há uma diferença cada vez maior entre o preço das casas e os salários. Portugal é o país da UE onde esse fosso mais aumentou.
Um dos principais problemas do mercado imobiliário continua a ser a falta de construção nova.
“Em Portugal, nos últimos dez anos, construíram-se 17 fogos por mil habitantes. A média europeia, no mesmo período, são 45 fogos por mil habitantes”, nota Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário. “Temos tido um choque de procura.”
As autoridades europeias falam numa preocupação crescente. Mesmo com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), há uma escassez de habitação acessível. Ricardo Guimarães explica que esse é o grande mercado, mas enfrenta muitos obstáculos.
“O aumento dos custos de construção tem dificultado o lançamento de habitação acessível”, afirma, destacando, por exemplo, o elevado nível de tributação.
Para avaliar o acesso à habitação, o indicador da OCDE compara o ritmo da evolução dos preços das casas com o do rendimento disponível bruto per capita. Em Portugal, numa década o esforço das famílias para comprar casa aumentou mais de 50%. É o maior agravamento da União Europeia.
O especialista sublinha que falta um mercado de arrendamento que seja porta de acesso à habitação.
“Somos uma exceção na Europa. Tem a ver com a falta de confiança que o mercado sente em resultado da instabilidade de políticas e de aspetos relacionados com a fiscalidade”, aponta Ricardo Guimarães.
O Governo apresentou um programa para combater a grave crise do setor, mas "construir Portugal" leva tempo. Com pouca oferta e a retoma da procura alavancada pela redução das taxas de juro, os preços da habitação vão continuar em alta.
“No curto prazo, não me parece que seja possível inverter este desequilíbrio entre rendimento e preços”, admite o diretor da Confidencial Imobiliário. “Este rácio tem de ser trabalhado pelo lado do mercado imobiliário - reduzir custos e disponibilizar habitação acessível - e, pelo lado das famílias, melhorar as condições para o aumento do rendimento e dos salários.”
Preocupada com estas dificuldades, a Comissão Europeia avisa que o número de pessoas em situação de abrigo está a aumentar a "uma escala nunca antes vista".