Donald Trump assume hoje a Presidência dos Estados Unidos com um plano económico marcado por medidas protecionistas que prometem transformar a economia global.
A analista de mercados Catarina Castro aponta que o novo Presidente “impõe o dólar, a moeda norte-americana, como o centro de força e de poder para o resto do mundo”. Esta estratégia inclui "a colocação e aumento de tarifas aduaneiraspara todo o mundo em geral, com maior ou menor impacto, consoante a sua visão económica e estratégica e também de risco geopolítico" e o regresso à primazia da indústria energética norte-americana.
Uma das grandes promessas da campanha foi o anúncio do Plano Nacional de Emergência para a Energia, que se espera ser oficializado hoje. Segundo Catarina Castro, este plano visa “aumentar em 3 milhões de barris a produção de petróleo por parte da economia norte-americana”, reforçando a autonomia energética do país.
Outro pilar da estratégia de Trump é a desregulação.
“Ele ultrapassa toda e qualquer expectativa de regulação ou compromisso de limites de regulação”, afirma a analista, dando como exemplo a abordagem à situação do TikTok e a substituição de líderes de supervisão financeira.
No campo fiscal, a política de Trump centra-se na redução de impostos e na expansão económica. A entrada de Scott Bessent como novo secretário das Finanças traz metas claras: “Colocar o crescimento económico do PIB norte-americano a 3%, reduzir o défice orçamental para 3% até 2028, dos atuais 6%, e aumentar a produção de combustíveis fósseis”.
Catarina Castro destaca ainda o impacto da inteligência artificial e da digitalização como ferramentas fundamentais para ganhos de produtividade e escala na economia norte-americana.
Impacto global
As consequências destas políticas serão sentidas à escala mundial, sobretudo na Europa e na China. Trump procura fortalecer o dólar, o que afeta os dois maiores detentores de dívida pública norte-americana: Japão e China.
“Ao colocar o dólar com uma certa valorização face ao resto do mundo, Donald Trump consegue reposicionar a economia norte-americana colocando estes dois parceiros, que são seus credores, com menor importância”.
O mercado de criptoativos também já sente o impacto das eleições. A Bitcoin, por exemplo, valorizou mais de 50% desde novembro, atingindo um recorde de 110 mil dólares.
"Trump não deve ser visto apenas como um mero político ou com uma visão política ou deontológica significativa" mas como alguém com uma visão "de estratégia de defesa económica do país (...) estas preocupações são as preocupações que vão na mente económica de Donald Trump e não deontológica ou política de Donald Trump".
"Este novo-velho Presidente tem razão em alguns pontos e é um perigo em muitos outros pontos"
José Gomes Ferreira chama a atenção para o que considera perigoso na estratégia de Trump, mas vê também alguns pontos positivos.
"Este novo-velho Presidente, que já lá esteve, tem razão em alguns pontos e é um perigo em muitos outros pontos. A começar precisamente por esta degradação das relações comerciais que vai acontecer em todo o mundo. O isolacionismo nunca deu bom resultado".
Outro ponto negativo é Donald Trump "governar como se o Estado pudesse continuar a gastar dinheiro caindo ele das árvores ou do céu ou sabe-se lá de onde, do meio da galáxia. Para ele, a questão da emissão de dinheiro pelo Banco Central, pela Fed, é uma não questão. Para ele é ilimitado".
A outra situação tem a ver com uma bolha especulativa que é dos criptoativos. (...) quando alguém descobrir que as bitcoins e outras moedas valem zero.
"Donald Trump tem razão em alguns pontos: reindustrialização é importante, a política de energia que tem existido nos Estados Unidos e na Europa é uma política de energia que, por sua vez, é fundamental para haver indústria a funcionar e exportações em força. Tem sido gerida por princípios que eu chamo de radicalismo ambiental".