Economia

Como combater a inflação nas suas finanças pessoais

A inflação está a subir para valores preocupantes em Portugal e na Europa. O jornalista Pedro Andersson, responsável pela rubrica “Contas-poupança” da SIC, dá-lhe algumas dicas sobre como pode combater o efeito da inflação na sua carteira.

Como combater a inflação nas suas finanças pessoais

Já reparou que anda a ganhar menos todos os anos?

Provavelmente não percebeu, mas no ano passado o seu salário baixou 1,3%. E este ano vai baixar ainda mais. A maior parte de nós ainda não percebeu muito bem o que é a inflação e como ela nos “come” o salário.

Como sabe, a inflação está a disparar na Europa – chegou aos 5% – e em Portugal está já a atingir valores a que não estamos nada habituados. A inflação média em 2021 ficou nos 1,3%. 

Ouço muitas vezes as pessoas dizerem que querem sempre “investir” (na prática querem dizer “guardar”) dinheiro em produtos com capital garantido para não perderem dinheiro. Assim, as suas poupanças estão sempre garantidas.

Ora, a má notícia que lhe trago é que mesmo que isso teoricamente seja verdade, na realidade dinheiro parado está sempre a perder dinheiro.

Tenho a certeza de duas coisas: que já ouviu falar muitas vezes a palavra “inflação”; e que ouviu e provavelmente não ligou nenhuma. Se aparecesse uma linha no seu extrato bancário a dizer “Inflação” e a tirar-lhe 20 euros todos os meses, provavelmente ligava para o banco a perguntar que escândalo era aquele, dessa tal empresa “Inflação, Lda.” que lhe estava a tirar dinheiro da conta sem você saber.

A parte má, é que isso está mesmo a acontecer, só que você não se apercebe disso. A inflação não é uma coisa nova, é um conceito económico que já tem décadas. Basicamente, significa que as coisas ficam cada vez mais caras ao longo do tempo e que, por isso, o seu dinheiro vale menos. Por outras palavras, com o mesmo dinheiro consegue comprar menos coisas.

Só para perceber como a inflação afeta o dinheiro que tem na sua conta, veja o que está a acontecer com os combustíveis. Encher o depósito do carro está cada vez mais caro. Pessoas que enchiam o depósito com 60 euros há poucos meses, agora precisam de 80 ou 90. Embora não se aperceba, esses aumentos fazem parte da inflação.

Quanto valem hoje 10.000 € mantidos desde 2015?

Fiz uma simulação com os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) e imaginei que tinha 10.000 euros numa conta a prazo em 2015 e que a mantive até hoje. Ganhei alguns juros (uma miséria) mas as comissões comeram todos esses pequenos lucros. Portanto, na prática continuo lá com os 10.000 euros. Devo ficar contente? Sim, porque não perdi um cêntimo? É uma ilusão.

O simulador do INE diz-me que os meus 10.000 euros de 2015 valem hoje (com dados da inflação em Portugal até 2020)  apenas 9.677 euros. Por não ter feito nada, perdi 323 euros. Mas tenho lá na mesma os 10 mil euros. 

O problema da inflação é que não são só os combustíveis. Os bens alimentares também estão a subir, a eletricidade está a atingir os valores mais altos de sempre, e de certeza de que também já sente aumentos em outros setores.

O que tem de perceber é que é por esta razão (a outra está relacionada com os gastos supérfluos que possa estar a fazer todos os meses e compromissos com créditos que assumiu no passado) que lhe está a ser cada vez mais difícil chegar ao fim do mês com dinheiro na conta.

Isto não é brincadeira. Com os mil euros (ou o que for) que ganha todos os meses vai conseguir comprar cada vez menos coisas. Ou seja, se mantiver o seu nível de vida atual, isso vai causar-lhe problemas rapidamente. Como tudo está a ficar mais caro para todos, todos estão a aumentar os seus próprios preços e serviços. É uma escalada.

Como pode lutar contra a inflação

Há várias estratégias que deve assumir já hoje e em qualquer altura da sua vida, esteja a inflação alta ou não. Não aceite esta situação como se fosse uma coisa do destino que não pode mudar. É verdade que não pode fazer nada para impedir a inflação (que as empresas aumentem os preços dos bens e serviços), mas pode escolher o que compra.

A primeira coisa que deve alterar no seu comportamento é atualizar o seu orçamento mensal. O valor que tinha destinado para alimentação e limpeza da casa pode já estar fora da realidade. Portanto, pode ser necessário baixar a verba destinada a outras coisas para manter o valor orçamentado nas áreas onde os preços aumentaram. É o caso dos combustíveis. Aumente essa verba (porque por muito que escolha empresas mais baratas, mesmo aí também subiram). E veja onde pode (ou tem) de cortar para que a sua família continue a dar lucro (ou no mínimo não dar prejuízo) apesar da situação atual.

Em segundo lugar, deve passar a escolher muito bem tudo o que compra. Se o preço do leite aumentou, deve prestar mais atenção às promoções e aos preços de marcas mais baratas. Pode comprar em quantidade quando encontra um preço mais baixo, se tiver possibilidades financeiras para isso. 

Por exemplo, embora o preço “normal” de muitas marcas de leite seja 0,56 € ou 0,58 €, eu só compro leite se estiver abaixo dos 0,50 € (de preferência 0,48€ ou 0,46 €. E quando encontro estes preços compro vários packs (atenção ao prazo de validade). Ou seja, lute contra a inflação. Se os outros aceitam o aumento dos preços e compram ao preço que está, sem fazer esta pesquisa e comparação, que o façam. O mesmo se aplica à roupa, calçado, detergentes, eletricidade (escolha empresas mais baratas), gás, etc.

E em terceiro lugar, se tem uma poupança (grande ou pequena) deve colocar esse dinheiro em produtos que rendam mais do que a inflação. Se a inflação está a 1,3%, é OBRIGATÓRIO que encontre ferramentas financeiras que rendam isso, ou quase, para que não esteja a perder dinheiro todos os dias.

Só para que perceba a importância de fazer isso vou dar-lhe um exemplo. No início do século (2004, 2005) comprei a minha primeira casa por 80 mil euros. Não os tinha, por isso pedi um crédito. Mas imagine que tinha uma poupança no banco nesse valor. Portanto, em 2005 tinha 80 mil euros no banco e em vez de comprar uma casa deixei ficar esse dinheiro numa conta à ordem ou numa conta a prazo a render muito pouco (abaixo da inflação). Recordo que, em 2005, com 80 mil euros conseguia comprar um T2.

Durante todo este tempo, deixei lá ficar o dinheiro porque tinha medo de o perder. Portanto, hoje, em 2021, seria o alegre dono de quanto? Pois, de 80 mil euros e uns trocos. Vamos ser optimistas e até considerar que alguns juros me fizeram crescer aquele dinheiro para 85 mil euros. A questão é: Comprava um T2 em Lisboa hoje com 85 mil euros?

É terrível perceber que embora não tenha perdido nem um cêntimo, por ter deixado o seu dinheiro parado a inflação “comeu-lhe” dezenas de milhares de euros. 

Assim, a terceira dica para tentar lutar contra a inflação é “proteger” o seu dinheiro fazendo-o crescer em produtos como Certificados de Aforro ou Certificados do Tesouro (com capital garantido) ou em contas promocionais (um banco dá 5% durante 1 ano e 2% no segundo ano), ou então em ferramentas sem capital garantido como fundos PPR, Fundos de investimento ou ETF (se não sabe o que são, basta colocar no google). Não só pode vencer a inflação como ainda pode ganhar dinheiro com o seu dinheiro.

Não fique é parado a ver a inflação passar por si e a levar-lhe o dinheiro que tanto lhe custou a ganhar.

Jornalista: Pedro Andersson