Economia

Dielmar: dinheiro do novo dono já chegou e há renascimento à vista para a têxtil de Alcains

Negócio com o grupo Valérius “está bem encaminhado”, garante fonte conhecedora do processo. O que vai fazer a Dielmar? Trabalhar para uma marca premium.

Dielmar: dinheiro do novo dono já chegou e há renascimento à vista para a têxtil de Alcains

O renascimento da Dielmar “está bem encaminhado” e passa, de novo, pelo grupo Valérius, garante ao Expresso fonte conhecedora do processo, admitindo que tudo “deverá ficar concluído nos próximos dias”, com trabalho garantido para mais de 200 trabalhadores da têxtil de Alcains. O comprador já avançou com o pagamento integral acordado para a aquisição dos ativos da Dielmar.

Depois de ter sido depositada uma caução de 60 mil euros correspondente a parte da proposta de 275 mil euros apresentada pelo comendador José Manuel Vilas Boas Ferreira, presidente do grupo Valérius, nas últimas horas também já foi depositado na conta da massa insolvente o remanescente da verba acordada para a venda da empresa, apurou o Expresso. O que deixa o preço de compra da Dielmar integralmente pago já esta sexta-feira, precisamente no dia em que o primeiro-ministro António Costa visita Castelo Branco. 

Se tudo correr como previsto, seguem-se os trâmites burocráticos normais nestes processos para a adjudicação de bens à Valérius e, em seguida, será preciso resolver a questão do contrato de arrendamento do espaço fabril com o FIEAE – Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas.  

Quanto à formação dos trabalhadores, está agendada para começar já em fevereiro e, de acordo com os dados disponíveis, a Valérius absorve 210 dos 240 funcionários da empresa. “De fora ficam apenas alguns administrativos, uma vez que o grupo centralizará esses serviços, assim como os trabalhadores que optaram por não continuar no projeto”, garante a fonte.  

As encomendas parecem já estar garantidas, através de um contrato para “uma marca de moda alemã de prestígio internacional”, acrescenta. 

Com este acordo, que teve o aval unânime da Comissão de Credores, a Valérius acaba por pagar mais 25 mil euros do que o valor que tinha apresentado inicialmente para comprar a empresa, que pediu a insolvência em agosto e, depois de fracassados os esforços de viabilização, acabou por ver a Assembleia de Credores votar o seu encerramento definitivo a 11 de novembro. 

Nesse momento, tudo parecia acertado para a têxtil ser vendida à Valérius, de acordo com um cenário desenhado com a intervenção do Ministério da Economia. No entanto, essa solução acabou por cair por terra quando surgiram outras manifestações de interesse para ficar com a marca e ativos industriais da Dielmar, uma das quais, da Outfit21, de Leiria, em parceria com um investidor brasileiro, oferecia 295 mil euros pela empresa. 

O juiz do processo decidiu, então, “promover a liquidação do ativo da massa insolvente, com a maior brevidade possível, conferindo aos interessados a possibilidade de apresentarem as respetivas propostas” e dando ao administrador judicial 90 dias para entregar um relatório das diligências. 

Na verdade, a Outfit 21, que já anteriormente tinha manifestado interesse na Dielmar mas acabou por ter de retirar a sua proposta por não conseguir as garantias de Estado necessárias ao empréstimo bancário que tinha pedido para concretizar o negócio”, acabaria, mais uma vez por saltar fora. Abandonou a corrida na véspera de terminar o prazo para entregar propostas ao administrador de insolvência e justificou: “Decidimos que nesta fase não havia suficiente garantia de obtermos um projeto que fosse financeiramente viável”, disse o presidente executivo da empresa, Vítor Madeira Fernandes, citado pelo jornal Eco a 20 de dezembro. 

Na corrida, ficou mais uma vez apenas o grupo Valérius, decidido a dar uma nova vida a esta têxtil familiar, fundada em 1965, com uma dívida acumulada de 17 milhões de euros a 355 credores. 

Ana Paula Rafael, que liderava a Dielmar quando o pedido de insolvência foi apresentado, alegou problemas decorrentes da crise pandêmica. Já o Ministério da Economia, que detinha uma posição de 30% no capital social da Dielmar, foi rápido numa reação em que fez questão de deixar claro que as dificuldades da Dielmar eram anteriores à covid-19, prolongavam-se já há 10 anos e os apoios de milhões de euros recebidos pela empresa têxtil pressupunham medidas de restruturação que a administração não completou. 

De acordo com a tutela, durante uma década, várias entidades públicas injetaram cerca de cinco milhões de euros na empresa, tendo ainda garantido mais três milhões de euros de dívida no pressuposto da “realização de um conjunto de medidas necessárias à reestruturação, sendo que a maioria destas medidas não foram aplicadas pela administração da Dielmar”. 

“O Estado, através do Fundo Autónomo de Apoio à Concentração e Consolidação Empresarial (FACCE) e o Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas (FIEAE) […] já aportaram à Dielmar, sob a forma de capital, suprimentos e ‘leasing’ imobiliário, um montante de 2.700.000,00 euros através do FACCE, entre 2011 e 2013, e outro de 2.500.000,00 euros através do FIEAE, em 2017. Além dos apoios referidos, a Dielmar tem garantias da Garval – Sociedade de Garantia Mútua, S. A., que integra o grupo do Banco Português de Fomento, no valor de 1.775.000,00 euros”, precisou, um comunicado do Ministério da Economia. 

“O dinheiro público não serve para salvar empresários”, disse então o ministro da Economia, Siza Vieira.