José Gomes Ferreira

Diretor-adjunto de informação da SIC

Economia

José Gomes Ferreira: aumento do preço dos combustíveis é “em bom rigor um roubo aos portugueses”

O preços dos combustíveis disparou esta segunda-feira para o valor mais alto de sempre.

José Gomes Ferreira: aumento do preço dos combustíveis é “em bom rigor um roubo aos portugueses”

No dia em que o preço dos combustíveis atingiu o valor mais alto de sempre, José Gomes Ferreira explica que “não é só a guerra [na Ucrânia] que justifica” estes aumentos. Produtores, distribuidores e o Estado estão “todos a ganhar” com esta situação que, diz, “é em bom rigor um roubo que se faz aos portugueses”. Mas o impacto não se vai sentir só nos combustíveis, vêm aí “aumentos em muitas frentes”, avisa.

A guerra é apenas um dos fatores a pressionar o preço final. Começamos logo pelos produtores, incluindo a Rússia, Angola, OPEP que estão a ganhar mais, não há dúvida nenhuma porque a cotação subiu. Depois as refinadoras estão a ganhar muito dinheiro porque o petróleo que estão a refinar neste momento foi comprado a um preço muito mais barato do que aquele que é o mercado SPOT (da oferta e da procura diária que faz os preços de que estamos a falar próximo dos 140 dólares por barril)”, explicou José Gomes Ferreira na antena da SIC.

Mas há mais quem esteja a ganhar com este aumento. “O Estado ganha na aplicação do imposto sobre a quantidade que é o ISP (Imposto Sobre Produtos Petrolíferos). Só que depois tem um outro imposto que é sobre o valor que incide sobre o valor do crude, que é mais alto, e sobre o próprio ISP, uma dupla tributação portanto. Em bom rigor é um roubo que se faz aos portugueses“.

Por fim, também as distribuidoras neste momento, com o pretexto de que o crude subiu estão a ter uma mais margem bruta muito maior, isto é, estão a ganhar muito mais. Estão todos a ganhar muito mais, não é só a guerra que justifica isto”.

Neste sentido, José Gomes Ferreira lamenta que não tenhamos um “Parlamento em funções”. Porque aí “devia haver uma comissão de inquérito e o nosso Governo devia estar muito preocupado com estas vertentes todas”.

José Gomes Ferreira avisa, porém, que estamos perante “uma conjuntura (…) que nos prejudica a todos, mas é assumido que nós como cidadãos do mundo livre e civilizado aceitamos pagar este preço”.

Vem aí “aumentos em muitas frentes”. Desde logo no mercado da eletricidade, “cujo valor grossista, isto é das compras por grosso das empresas distribuidoras disparou de preço – quatro a cinco vezes mais – já vai em 542 euros o megawatt/hora. É evidente que isto não se transfere imediatamente para as contas da luz das nossas casas e das empresas, mas daqui algum tempo já estaremos a discutir o que vai ser o aumento do próximo ano”.

“Depois todo o conjunto das cotações de produtos nos mercados internacionais vai cair-nos em cima. (…) O trigo que em relação há três meses aumentou 66,7%, é evidente que isto não se transfere já para o preço do pão que compramos na padaria, mas vai transferir-se para o preço da farinha das moagens que por sua vez o vão fazer repercutir”.

Mas há mais. Toda esta situação vai levar-nos ao “indicador global que aglutina isto tudo: a inflação, que depois vai pressionar os bancos centrais a subir os juros e lá estamos nós a ter que pagar as casas aos bancos e todas as prestações mais caras ao fim do mês. É este o conjunto da realidade que temos“.

“O próprio Putin disse que as sanções económicas eram uma declaração de guerra e na realidade estamos a apanhar com os efeitos negativos e iremos, infelizmente, apanhar ainda mais”, concluiu José Gomes Ferreira.

O valor mais alto de sempre

O preços dos combustíveis disparou esta segunda-feira para o valor mais alto de sempre. No gasóleo, o aumento é de cerca de 14 cêntimos por litro e na gasolina é de 8 cêntimos por litro. Este é o 10.º aumento do preço dos combustíveis do ano e o maior de sempre.

A tendência foi acentuada pela guerra na Ucrânia e pelo consequente aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais.

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