Chegou à liderança do PAN a 6 de junho de 2021, dia em que celebrou 41 anos e fez questão de realçar o facto de ser apenas a “quinta mulher em 47 anos de democracia” a assumir a liderança de um partido em Portugal. Nascida e criada em Lisboa, foi na capital que exerceu o primeiro cargo político: aos 34 anos foi provedora dos animais na Câmara Municipal e foi também nessa função que tentou acabar com as touradas no Campo Pequeno. A paixão pelos animais vem da infância, mas Inês de Sousa Real garante que está empenhada em travar outras batalhas. É vegan, feminista assumida e admiradora de Jane Goodall, a antropóloga britânica que lutou pela proteção dos chimpanzés em África. Os mais próximos descrevem-na como uma pessoa trabalhadora e exigente.
“Foi um desafio muito interessante, uma viragem na minha vida”, assim se refere à experiência que viveu em Barcelona, onde tirou um mestrado em Direito Animal e Sociedade, depois de uma licenciatura em Direito pela Universidade Autónoma de Lisboa e de pós-graduações em Ciências Jurídico-Políticas e Contencioso Administrativo.
“O Direto foi um bocadinho pelo sentido de Justiça, do querer mudar o mundo, querer contribuir para as causas”, conta em entrevista ao projeto “Os 230”.
Do Colégio de São João de Brito, que frequentou durante vários anos, recorda “o companheirismo e o espírito de solidariedade”, bem como a qualidade do ensino.
Paula Inês Alves de Sousa Real nasceu em Lisboa, a 6 de junho de 1980, e recorda com saudades a cidade nos seus tempos de criança: “Lembro-me de que podíamos brincar à vontade nos jardins (…) Lembro-me de no Natal irmos passear à Baixa e do cheiro a castanhas na rua”. Lamenta que questões como a pressão turística ou os problemas na habitação ditem o afastamento dos lisboetas da capital.
Mais tarde foi morar para Oeiras e, profissionalmente, começou por exercer funções de jurista na Câmara Municipal de Sintra em 2006, até ocupar o cargo de chefe da Divisão de Execuções Fiscais e Contraordenações, de abril de 2015 a outubro de 2019, ano em que foi eleita deputada à Assembleia da República.
Início da carreira política e o cargo de provedora municipal dos animais
Filiou-se no PAN (Pessoas-Animais-Natureza) em 2011, ano em que assumiu funções como presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do partido. Foi candidata às Autárquicas de 2017, nas quais foi eleita deputada municipal por Lisboa.
Nas legislativas de 2019, foi eleita para a Assembleia da República pelo círculo de Lisboa, passando a ser líder parlamentar do PAN, papel que desempenhou até junho de 2021, quando, no VIII Congresso do partido em Tomar, foi eleita porta-voz do partido. Sucedeu, assim, a André Silva, o dirigente que levou o PAN ao Parlamento em 2015, então apenas como deputado único.
A candidatura à liderança do partido tinha sido anunciada nas redes sociais e foram muitos os comentários com elogios ao “espírito de entrega e sacrifício”, “empenho” e “capacidade de trabalho”.
Em 2014, aceitou o desafio da Câmara de Lisboa para assumir um cargo de provedora dos animais, nunca antes criado em nenhuma autarquia em Portugal.
“Foi um desafio totalmente diferente. Foi uma das missões mais gratificantes que tive a possibilidade de exercer. Comecei por receber queixas de todo país”, explicou ao “Os 230”, projeto cívico independente que visa aproximar a classe política e os cidadãos portugueses.
Apesar das boas memórias que guarda dos três anos como provedora dos animais de Lisboa, viu-se obrigada a ter de deixar esse papel por considerar que, por não ser exercido a tempo inteiro nem ser remunerado, estava sujeito a uma “lentidão latente na tomada de decisão”. Foi também aí que começou a aprender a trabalhar com António Costa, nessa altura presidente da autarquia.
Os ideais do PAN e a abstenção na votação na generalidade do OE 2022
Às criticas de que o PAN é um partido mais temático, Inês de Sousa Real assume preocupações concretas e explica: “Os animais surgem na nossa génese, mas estamos cá para defender também outros interesses (…) Evidentemente que ainda temos muito a fazer, em matéria dos direitos sociais, laborais, em matéria da habitação, dos transportes, isso não está em questão, mas com aqueles seres que nos acompanham nesta jornada, com os animais e com a própria natureza, temos de pensar no ecossistema como um todo”.
Sobre as comparações com o partido “Os Verdes”, a líder do Pessoas-Animais-Natureza garante que são vários os aspetos que os distinguem, nomeadamente a caça, atividade à qual o PAN se opõe terminantemente.
Na crise política que levou à convocação de eleições antecipadas, o PAN ganhou visibilidade ao decidir pela abstenção na votação na generalidade do Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022).
“O PAN, após ponderada análise do OE 2022 e do acolhimento das várias medidas na generalidade, não pode deixar de referir que o esforço de diálogo e de negociação, sem com isso perder qualquer exigência, é maior para toda e qualquer força política, atendendo à situação atual do país, e foi isso que o PAN procurou fazer”, disse Inês Sousa Real em outubro de 2021. Posição que, contudo, não seria suficiente para evitar o chumbo do Orçamento e a queda do Governo.
Já depois disso, voltou à ribalta devido às críticas da CAP – Confederação do Agricultores de Portugal, que acusava a líder do PAN de ser dona de duas empresas de produção agrícola que usariam práticas de cultura intensiva, como estufas e pesticidas. Sousa Real rejeitou as acusações que considerou terem como único objetivo prejudicar o partido.
Família, gostos e projetos fora da política
Vê na família um “pilar essencial”, no qual inclui os pais, os irmãos e o marido, sem esquecer os animais de estimação, a cadela Luna, resgatada das ruas, e o gato Micas, “que manda lá em casa, apesar da diferença de porte”.
Gostava de ir à Nova Zelândia, pela componente florestal, e de visitar o santuário de chimpanzés na Serra Leoa. A propósito da defesa dessa espécie, é também profunda admiradora de Jane Goodall, antropóloga britânica que se destacou na luta pela proteção dos chimpanzés em África.
Assume-se como uma pessoa sonhadora. Seguir a carreira académica ou ter um santuário são projetos em que se imagina, fora da política.
Na música os gostos são muito diversos e vão de Amy Winehouse a David Fonseca; no cinema, o filme eleito é “Cinema Paraíso”, de Giuseppe Tornatore; e uma das suas obras preferidas é “Siddhartha”, de Hermann Hesse.
O espírito animal em que se revê é o de “leoa”, até porque também é sportinguista.
ESPECIAL ELEIÇÕES LEGISLATIVAS