Abusos na Igreja Católica

Bispo de Beja pede perdão após afirmar que "padres abusadores deviam ser perdoados"

O bispo de Beja, D. João Marcos, defende agora que abusos sexuais a menores são da "máxima gravidade, com efeitos devastadores".

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O bispo de Beja pede perdão pelas declarações que fez esta semana. D. João Marcos , numa entrevista à SIC, afirmava que os padres abusadores deviam ser "perdoados". Num comunicado enviado à agência Ecclesia, D. João Marcos retrata-se e diz que não é este o pensamento que defende e está ciente da “deceção que provocou dentro e fora da Igreja”.

Agora, defende que os abusos sexuais a menores são da “máxima gravidade, com efeitos devastadores”.

Assim, o bispo de Beja afirma que “não há lugar para os abusadores no sacerdócio” e que as “suspeitas verosímeis” obrigam a tomar medidas que evitem todo o perigo sobre menores.

"Por meu desacerto no modo e na oportunidade do que disse, dei a entender que subestimo a enorme gravidade dos abusos sexuais de menores e que o perdão de Deus permite ao abusador retomar a sua vida normal como se nada tivesse acontecido", frisou.

Sublinhando que "de nenhum modo" é esse o seu pensamento sobre o tema, o arcebispo de Beja disse compreender "a deceção" que provocou com as declarações "dentro e fora da Igreja" e "a todos" pede agora perdão.

"Se praticados por homens dedicados a Deus, são ainda mais graves e são blasfémias", vincou.

O prelado alentejano defendeu que "não há lugar para os abusadores no sacerdócio", realçando que "as suspeitas verosímeis obrigam a tomar medidas que evitem todo o perigo sobre menores, incluindo o afastamento das tarefas pastorais".

"A investigação deve ser rápida e seguir as regras claras definidas pelo Papa Francisco. A colaboração com as autoridades deve ser plena e deve ser cumprida plenamente a lei civil e penal", assinalou.

Quanto às vítimas dos alegados abusos, concluiu, "têm de ser uma prioridade" e as "suas necessidades de apoio e reparação devem nortear" o acompanhamento da Igreja.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.

Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.

No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.

A comissão entregou aos bispos diocesanos listas de alegados abusadores, alguns ainda no ativo.