Stefania Lepidi era uma das passageiras do Elevador da Glória quando ocorreu o descarrilamento desta quarta-feira à tarde, provocando a morte a pelo menos 16 pessoas, cinco das quais portuguesas. Estava em Portugal com o filho de 25 anos no âmbito de uma conferência do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (INGV), onde trabalha, em L'Aquilla, como investigadora.
Mãe e filho preparavam-se para ir jantar na zona alta da cidade quando decidiram apanhar o famoso elevador por se apresentar com pouca fila. Desta forma, aproveitariam para ver a capital portuguesa de outra forma. Entraram na cabine que estava junto à Praça dos Restauradores, quando, poucos momentos depois desta arrancar, esta travou.
A cabine onde estavam foi a que desceu poucos metros depois de o cabo se romper, sem descarrilar. A outra cabine, que descia, avançou a grande velocidade, descarrilando e tombando numa curva, embatendo num prédio. Foi nesta que se registaram vítimas mortais.
Em declarações à rede de televisão pública Rai 3, a italiana afirma que o "funicular estava bastante cheio", com "várias pessoas de pé".
"Arrancou, mas após alguns segundos, inexplicavelmente, parou de repente, depois voltou a mover-se com brusquidão batendo na parte de trás contra o que vi ser uma espécie de travão que existe no fim do percurso nos carris. Nesse impacto tão violento, eu, apesar de estar sentada, fui projetada do assento e caí sobre as pessoas que já estavam no chão e, ao cair, apoiei a mão direita e comecei a gritar porque me magoei no pulso", relata a mulher.
Stefania explica ainda que os passageiros da cabine onde seguia viram "fumo a sair do outro funicular" e "com medo de um incêndio, de uma explosão", saíram "todos a correr do funicular".
"Ficámos do lado de fora a ver a desgraça que tinha acontecido", descreve.
A mulher ficou com um braço partido e regressa esta sexta-feira a Itália com o filho, segundo avança o Corriere della Sera. Ao jornal italiano detalha que se estivessem na outra cabine, aquela que descia, "talvez agora não estivesse aqui".
"Nós saímos todos da carruagem a andar. Na outra houve vítimas mortais. Eu, no geral, estou bem, tenho o braço partido, mas foi uma experiência forte. Ver o que aconteceu aos outros deixou-me chocada, fiquei duas horas no chão porque, naturalmente, os bombeiros tinham outras prioridades, pediram-me para ter paciência, mas vi levarem as macas e em algumas estavam os corpos cobertos. Comecei a tremer, vomitei, não estava bem", relata.
Foi o filho que a ajudou nos primeiros momentos após o acidente enquanto os bombeiros, que procuravam dar resposta a todos, assistiam as vítimas mais graves.
Stefania relata ainda que a fizeram sentar no chão, mas que ficou "muito assustada": "Via sangue por todo o lado, comecei a tremer, a vomitar, aquelas duas horas foram de angústia: disseram-me que não me podiam ajudar de imediato, porque havia mortos. Tinha suores frios, o suor congelava-me na pele, as minhas costas doíam, e a certa altura puseram-me uma manta térmica."
A mulher foi depois levada para um dos cinco hospitais para onde foram transportadas as vítimas. Aí foi alvo de "exames para verificar se não tinha mais ferimentos", tendo tido alta na quinta-feira.