João Aroso foi oficializado como treinador-adjunto do selecionador da Coreia do Sul, Hong Myung-Bo, no último verão.
Depois de sair das funções de diretor técnico do Famalicão, o português, de 52 anos, voltou a orientar uma seleção depois de ter trabalhado com Paulo Bento na seleção nacional, entre 2010 e 2014, e de ter liderado a formação de sub-20 de Marrocos, em 2020. Pelo meio, passou ainda pelo Sporting de Braga e Vitória de Guimarães.
Ao Além Fronteiras, conta que, por terras coreanas, há uma ideia muito positiva sobre o trabalho dos treinadores portugueses.
Na seleção cabe-lhe a responsabilidade de preparar o treino, definir a ideia de jogo, a componente tática e a estratégia numa ligação e coordenação com os analistas.
“A decisão mais difícil de tomar até hoje”
O técnico admite que partir para o outro lado do mundo não foi uma decisão fácil. “Foi talvez a decisão profissional mais difícil que tive que tomar até hoje”.
Apesar da Coreia ser muito longe de Portugal, o facto de ser um trabalho de seleção, permite ao português algum equilíbrio, pois não exige a sua permanência no país. “O equilíbrio familiar foi muito importante na decisão”.
Além da distância do país, a língua também não é uma pêra doce. “O coreano é muito difícil. Até finalizar o primeiro estágio consegui dizer duas palavras: olá e obrigado”. No último estágio conseguiu evoluir para mais uma: bom trabalho. Expressão com que normalmente terminam o treino.
João Aroso diz que gosta bastante da comida da Coreia e do picante. Comer carne de cão é que não, avisou logo que essa parte cultural “saltava”, que não queria experimentar.
Já no que diz respeito aos coreanos, João Aroso não poupa nos elogios.
“São pessoas com um respeito muito grande pelos outros. Têm uma noção muito vincada de hierarquia. Quando cumprimentam alguém que hierarquicamente é superior fazem uma vénia. É um país organizado, muito civilizado, com pessoas muito gentis.”
Acrescenta ainda que associado a essa hierarquia há algo que por vezes influencia a questão profissional que é uma dificuldade muito grande em discordar. Dificilmente os coreanos referem discordância, sobretudo se a pessoa que está a emitir opinião for hierarquicamente superior. Podem não concordar mas ficam calados e por vezes isso é difícil de gerir.
“Praticamente não há assobios aos árbitros”
Os elogios continuam quando o assunto é a liga coreana. Para o técnico, “é extremamente organizada, com bons estágios.” Nos jogos, praticamente não há assobios aos árbitros. “É algo que para um português é muito difícil compreender e adaptar-se”.
“É um clima sempre muito positivo, de muita festa, claques organizadas com muitos jovens e muitas mulheres. Não há grande pressão sobre a equipa que não tem um bom resultado”.
Além de considerar que há jogadores muito interessantes na Coreia, diz que o mercado é também muito interessante para os jogadores portugueses.
“O país é ótimo, seguro, a organização é boa, as condições de trabalho são boas. Financeiramente é bom”.
O maior problema é quando quer ver um jogo de futebol na televisão. “Quando ligo a televisão à procura de algum jogo de futebol, o que mais vejo é basebol. Mas não é o meu jogo.”
“Cris, estou com uma pressão do carago”
Durante a passagem pela seleção nacional, conta que era habitual fazerem-lhe perguntas sobre Cristiano Ronaldo. Para explicar o que ajudou o jogador a chegar ao primeiro patamar do futebol mundial costuma contar um episódio que aconteceu durante um estágio da equipa portuguesa.
Tudo aconteceu num jogo de ténis de mesa entre quatro jogadores. O jogo estava muito competitivo e o Cristiano exigia o máximo do companheiro de equipa, Fábio Coentrão, que numa das pausas, desabafou: “Cris, estou com uma pressão do carago”.
João Aroso diz que o momento define o que é o Cristiano na vida em geral. Em tudo o que está é para ganhar.
“Confundi o Kang-in com outro jogador, foi extremamente embaraçoso”
Na Coreia, o treinador também já tem uma história para contar. Num jantar da seleção começou a falar em espanhol com um jogador que pensava ser Kang-in, que esteve vários anos em Espanha, mas não era. O jogador “não percebia patavina”.
Ao lado estava o verdadeiro Kang-in, com um olhar muito sério. Para João Aroso, o embaraço foi grande.