Alterações Climáticas

António Guterres escreve carta a futura trineta para ser lida em 2100

“Enquanto te escrevo, em 2023, a humanidade está a perder a batalha da sua vida”. O secretário-geral da ONU publicou na revista TIME uma carta para ser aberta em 2100 pela futura trineta. Leia aqui o desabafo de António Guterres.

António Guterres escreve carta a futura trineta para ser lida em 2100
JOHANNA GERON

António Guterres, que tem dirigido muitas das suas últimas intervenções para a necessidade de combater as alterações climáticas, imaginou a sua futura trineta e escreveu-lhe uma carta, para ser aberta em 2100:

“Vais abrir esta carta com um espírito de felicidade e gratidão - ou com desilusão e raiva da minha geração?”

O líder das Nações Unidas antecipa que, se estivessem juntos, a trineta lhe perguntaria se viu “o desastre a chegar”. A resposta é “sim”. Guterres refere-se às “convulsões climáticas que ameaçam o nosso planeta”.

Prossegue:

“Estamos a dar cabo do planeta graças à ganância abismal, a ações tímidas e à dependência de combustíveis fósseis, que a cada ano conduzem as temperaturas a novos máximos insuportáveis.”

Na correspondência publicada na Time, o português nota também que “demasiados" líderes políticos falharam nas respostas aos apelos da comunidade científica e da sociedade civil, em especial dos jovens.

À semelhança do que disse no último Conselho Europeu, Guterres voltou a referir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus. Para tal, seria preciso haver “vontade política” para fazer um “pacto de paz com a natureza”.

“O que é que fizeste para salvar o planeta e o nosso futuro quando tiveste essa oportunidade?”

Em resposta a esta fictícia interpelação da trineta, que simultaneamente o “assombra e motiva”, Guterres termina a missiva com o compromisso de que não vai desistir de defender “a ação climática, a justiça climática e um mundo melhor, mais pacífico e mais sustentável”, que “todas as gerações merecem”.

Glaciares estão a derreter a "velocidade recorde"

O texto surge na mesma semana em que a ONU avisa que os glaciares estão a derreter a “velocidade recorde”.

Em março, na conferência da Água 2023 das Nações Unidas, Guterres tinha escolhido a expressão “humanidade vampírica” para alertar para os perigos da “exploração insustentável dos recursos hídricos, da poluição e do aquecimento global descontrolado”. Dias antes, numa das muitas intervenções recentes sobre o tema, falou numa “bomba-relógio climática que não para”.

O líder das Nações Unidas foi uma das personalidades homenageadas no Time Earth Awards 2023.