Alterações Climáticas

Análise

Alterações climáticas: "Tem de se acautelar menos os interesses económicos"

Ondas de calor, altas temperaturas e incêndios têm sido a realidade "normal" da Europa e dos Estados Unidos nos últimos tempos, algo que é um sinal evidente da emergência climática que o mundo vive, de acordo com o especialista de alterações climáticas, Duarte Costa.

Incêndio
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O incêndio na Grécia e mais alguns que têm ocorrido em Portugal iniciam, uma vez mais, a discussão sobre o impacto das alterações climáticas na Europa e pelo mundo fora. As ondas de calor serão cada vez mais frequentes e o especialista em alterações climáticas Duarte Costa explica que, por enquanto, Portugal se encontra resguardado, mas a Terra está em perigo.

“O anticiclone está-nos a permitir ter ar frio e ao mesmo tempo esta circulação do ar gera bloqueio no outro lado da Europa e gera calor extremo. Anticiclone é um amigo para nós, mas muitas vezes também causa este bloqueio em Portugal. O que estamos a ver na Grécia lembra-nos o que vivemos o ano passado e em 2017”; referiu Duarte Costa.

Apesar da realidade ser cada vez mais evidente, com as temperaturas a subir e os seus efeitos a serem notórios, as conferências COP, os apelos dos líderes mundiais para aplicação de medidas acabam por ser contraditórios pela “inação” que os próprios países e líderes têm relativamente às alterações climáticas.

Para Duarte Costa, o lucro está na raíz do pouco interesse em tomar medidas com urgência.

“Há um problema onde não se priorizam as pessoas, nem o planeta e os ecossistemas, e prioriza-se o lucro. O discurso pode ser populista, mas temos toda uma fação do lado direito do Parlamento Europeu, que a extrema direita está já a contaminar a direita democrática, com ideias falsas que desmente a ciência para benefícios económicos. Isto prejudica a vida das pessoas”, explicou o especialista.

É tão evidente que os principais emissores estão a sofrer com incêndios: Estados Unidos da América, Europa e China. Duarte Costa ainda evidenciou que, antes, as ondas de calor só aconteciam uma vez a cada 15 anos nos Estados Unidos, uma vez a cada 10 anos na Europa e uma vez a cada cinco anos.

“Estão mais frequentes e podem acontecer num período de dois a cinco anos”, alertou Duarte Costa.

Para evitar que isto aconteça, o especialista detalhou que a trajetória das emissões não pode ser “com calma” para evitar impactos económicos.

“Tem de se acautelar menos os interesses económicos e mais a vida das pessoas e da natureza e há vários setores que precisam de intervenção, mobilidade, energia, agricultura”, concluiu.

Uma nova onda de calor começou a atingir a Grécia a partir desta terça-feira, com temperaturas máximas previstas de 44ºC, quando os incêndios continuam a devastar partes das ilhas gregas de Rodes, Corfu e Eubeia, assim como a ilha italiana da Sicília.

Em Atenas, os termómetros devem chegar a 41ºC e no centro do país, 44ºC, segundo a previsão agência meteorológica nacional (EMY) grega.

Na linha de frente dos incêndios, que duram há mais de uma semana no país, os bombeiros ainda trabalham nas ilhas de Rodes, no mar Egeu (sudeste), Corfu, no mar Jónico (noroeste) e em Eubeia, uma grande ilha a leste de Atenas.

Estes incêndios florestais, alimentados por fortes ventos, já destruíram milhares de hectares de floresta e vegetação, até ao momento sem causar vítimas.