Milhares de pessoas que fugiram de casa e agora regressam para as ver em cinzas, enfrentam o desespero. Alguns perderam muito mais que haveres. O número de vítimas mortais subiu para 10 e mais de 10.000 casas e outras estruturas arderam. Domingos Xavier Viegas diz que os números podiam ser mais trágicos caso as autoridades não tivessem ordenado a evacuação em massa da região afetada pelos fogos, em Los Angeles. O especialista em incêndios florestais afirma que este tipo de incêndios é mais frequente e complicado devido às alterações climáticas.
“Este tipo de incêndios já têm acontecido, mesmo nos EUA, não tão graves em termos de consequências, em termos de atingir uma área tão importante, tão emblemática, mas já outras cidades dos EUA tiveram sujeitas a fenómenos destes. (…) As alterações climáticas estão a tornar este tipo de eventos cada vez mais frequente e mais grave, não só nos Estados Unidos, mas como em todo o mundo”, sublinha o especialista que considera que este é um sério aviso para o que virá nos próximos anos.
Lições a tirar desta tragédia
Domingos Xavier Viegas explica que há lições a tirar desta tragédia e a principal é que este tipo de flagelo não afeta apenas as classes mais pobres.
“Como vemos, pode atingir qualquer pessoa. Normalmente diz-se que estes desastres naturais costumam atingir as classes desfavorecidas, os mais pobres e assim é, em geral, mas aqui estamos a ver, neste caso, pessoas das mais ricas do mundo a serem afetadas, o que mostra que elas, apesar de todos os recursos que têm, ou não anteciparam, ou não previram, ou não se prepararam para um evento deste”, realça o especialistas em incêndios florestais.
Conjuntura política internacional vs combate às alterações climáticas
Perante uma conjuntura política internacional que se avizinha que tende a desvalorizar por completo o impacto das alterações climáticas, Xavier Viegas deixa o alerta:
"A primeira coisa é que não se pode ignorar o fenómeno, o processo das alterações climáticas. Negá-lo não conduz a nada que seja válido e positivo.
Obviamente as alterações climáticas não explicam, não justificam tudo. E perante este fenómeno, perante este processo dos incêndios florestais, que são naturalmente potenciados pelas alterações climáticas, há que tomar muitas outras medidas".
“Mais meios, mais aviões… há muita coisa a fazer antes”
O investigador teme que as pessoas se voltem se foquem no combate, tendo em conta as medidas que foram anunciadas pelo Governo dos Estados Unidos.
"Mais recursos, mais meios, mais aviões. Isso é importante e é necessário, mas há muita coisa a fazer antes. Não digo que estes incêndios, esta destruição pudesse ser evitada, mas certamente poderia ser minimizada.
Por um lado, se nós cientistas compreendêssemos melhor e soubéssemos explicar e antecipar e prever o que se está a passar, coisa que não acontece, porque a natureza está-nos constantemente a desafiar e lançar, digamos, novas situações, novos processos que vão para além daquilo que nós conhecemos", explica Xavier Viegas.