Chernobyl

Seis dos sete países mais industrializados do mundo continuam a contar com a energia nuclear

O G7 quer "acelerar" a saída dos combustíveis fósseis e acabar com a poluição plástica e continuar a contar com a energia nuclear. A Alemanha está sozinha na decisão de encerrar centrais nucleares.

Seis dos sete países mais industrializados do mundo continuam a contar com a energia nuclear
John Bazemore

Os ministros da Energia e Ambiente do G7 comprometeram-se hoje, em Saporo (norte do Japão), a alcançar uma sociedade livre de combustíveis fósseis "ao seu próprio ritmo", mas continuar a contar com a energia nuclear.

A Alemanha, que encerrou os últimos reatores nucleares do país no sábado, criticou o aval do G7 à continuação do recurso à energia nuclear, segundo a agência espanhola EFE.

A ministra do Ambiente alemã, Steffi Lemke, disse numa conferência de imprensa após a assinatura do documento da reunião que "não é segredo que os diferentes países do G7 têm pontos de vista diferentes sobre a energia nuclear".

Além do Japão e da Alemanha, o grupo dos sete países mais industrializados é formado por Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Reino Unido.

No comunicado, o G7 admite que os que optam pela energia nuclear "reconhecem o seu potencial para fornecer energia de baixo carbono a preços acessíveis" para enfrentar a crise climática e "garantir a segurança energética global".

Os países em causa, segundo o G7, comprometem-se a "maximizar a utilização dos reatores existentes de forma segura e eficiente, e a avançar com um funcionamento seguro a longo prazo".

Japão defende o nuclear

O Japão, o anfitrião do encontro por exercer a presidência rotativa do G7, é o país que mais tem defendido este ponto.

Em dezembro, Tóquio prolongou a vida útil dos reatores nucleares para que possam funcionar além do atual limite de 60 anos.

Trata-se de uma mudança de política destinada a reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) e assegurar o fornecimento de eletricidade.

O objetivo do país asiático é aumentar o fornecimento de eletricidade gerada pela energia nuclear de 20 por cento para 22% ou 24%, e tornar-se menos dependente do exterior devido à invasão russa da Ucrânia.

Alemanha desliga últimos 3 reatores

Este sábado, a Alemanha desligou os três últimos reatores nas centrais Isar 2 e Neckar 2, no sul, e Emsland no centro, num adeus definitivo à energia nuclear apesar da crise exacerbada pela guerra contra a Ucrânia.

No comunicado, os ministros destacaram os esforços para alcançar a neutralidade do carbono energético até 2050, "o mais tardar", segundo a agência francesa AFP.

Já no ano passado, se tinham comprometido a descarbonizar a maioria do setor elétrico até 2035, objetivo reconfirmado hoje.

Novo reator nuclear começa a produzir eletricidade na Finlândia

Em contraste, a Finlândia ativou hoje o reator nuclear Olkiluoto 3 na central nuclear com o mesmo nome no sul da Finlândia para produzir eletricidade.

A central deverá produzir 30 por cento da eletricidade do país no futuro, metade da qual será gerada pelo novo reator, disse o operador finlandês num comunicado citado pela agência espanhola EFE.

A Finlândia foi o primeiro país da União Europeia (UE) a aumentar a capacidade de produção de energia nuclear após o acidente na central de Chernobyl na Ucrânia, em 1986.

O objetivo de Helsínquia era reduzir a dependência energética da Rússia e reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2).

O país nórdico planeia concluir, no prazo de dois anos, a construção da Onkalo, o primeiro depósito geológico profundo do mundo para eliminação permanente dos resíduos radioativos.

G7 não se compromete com data para eliminar carvão

Em sinal de negociações difíceis, o G7 não se comprometeu especificamente com uma data para a eliminação gradual do carvão no setor da eletricidade, embora o Reino Unido, apoiado pela França, tivesse proposto 2030.

Na frente ambiental, comprometeram-se a reduzir a zero a sua poluição por plásticos até 2040, nomeadamente através da economia circular, reduzindo ou abandonando os plásticos descartáveis e não recicláveis.

Vários membros do G7, como Reino Unido, França e Alemanha, já estavam empenhados neste objetivo, mas não os Estados Unidos e o Japão.

Alarmante relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas

Os membros do G7 tiveram de mostrar unidade e determinação após o último e alarmante relatório de síntese do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), publicado em março.

De acordo com o IPCC, o aquecimento global causado pela atividade humana atingirá 1,5° C acima dos níveis pré-industriais até 2030-2035.

Isto compromete o objetivo do acordo de Paris, de 2015, de limitar os aumentos de temperatura a este nível, ou pelo menos abaixo de dois graus Celsius.

O diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, que esteve presente em Saporo, disse à AFP que a mensagem do G7 combina as preocupações com a segurança energética com um roteiro para lidar com a crise climática.

Mas organizações não-governamentais (ONG) como a Greenpeace ficaram desapontadas.

"Há alguns aspetos positivos, mas ainda falta ambição", resumiu Daniel Read, da Greenpeace.