Cimeira do Clima

Secas em Portugal e inundações no Bangladesh

Já não é possível travar alguns impactos das alterações climáticas, mas o pior ainda pode ser evitado, de acordo com um estudo internacional apresentado durante a 23ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP23), em Bona, na Alemanha.

Barragem do Pego do Altar, na bacia do rio Sado, setembro de 2017
Barragem do Pego do Altar, na bacia do rio Sado, setembro de 2017
Armando Franca / AP

Nos últimos quatro anos, mais de 50 cientistas de 16 instituições e 13 países trabalharam no projeto Helix (High-End Climate Impacts and Extremes).

Richard Betts é investigador da Universidade de Exeter, diretor do departamento de Impactos Climáticos do Met Office Hadley Center, no Reino Unido, e coordenou o estudo, que traça um cenário preocupante sobre Portugal.

Os principais impactos esperados para a Península ibérica são as secas e as ondas de calor, que também potenciam a ocorrência de mais incêndios rurais.

"Portugal é dos países mais vulneráveis a estes impactos"


"Portugal é dos países mais vulneráveis a estes impactos", disse Richard Betts à SIC. Por isso, segundo o investigador, o país deverá preparar-se para situações de escassez de água e desertificação acrescida, com medidas de conservação da água e do solo, nomeadamente no setor agrícola.

O projeto examinou os possíveis efeitos do aumento da temperatura média global de 1,5 ° C, 2 ° C, 4 ° C e 6 ° C em comparação com os níveis pré-industriais.

Mesmo com reduções rápidas nas emissões globais de gases com efeito de estufa, mantendo o aquecimento abaixo dos 2 ° C, o nível médio das águas do mar poderá aumentar em 0,5 m até o final do século XXI, afetando sobretudo os pequenos estados insulares, como as Fiji (país que preside à COP23), e os países baixos.

O estudo calcula que 2,5 milhões de pessoas poderão ser afetadas no Bangladesh. Mas, se as emissões de gases com efeito de estufa aumentarem e o aquecimento global exceder 4 ° C, o nível do mar aumentará ainda mais e poderá afetar cerca de 12 milhões de pessoas naquele país asiático, em caso de tempestade.

Inundação no Bangladesh, em junho.
Reuters TV

Os cientistas prevêem uma maior precipitação que agravará o risco de inundações, aumentando os níveis dos rios. "Uma atmosfera mais quente pode conter mais água e a chuva será mais intensa, e isso significa mais inundações", explica Richard Betts.

Com um aquecimento de 4 ° C, os investigadores dizem que o risco de inundações poderá aumentar cinco vezes (em relação ao período 1976-2005) na maioria dos países, que representam 73% da população mundial de 79% do PIB mundial.

As conclusões do estudo sugerem que, mesmo com um aumento de apenas 1,5 ° C na temperatura média global, o risco de inundações duplica.

As temperaturas globais já aumentaram em cerca de 1 ° C, desde a revolução industrial.