As Nações Unidas (ONU) indicaram, na segunda-feira, que o sistema humanitário atingiu "um nível de desafio e stress" em Gaza nunca antes verificado no mundo, assegurando que permanecerão no enclave palestiniano, sob invasão israelita, para acudir à população.
Num 'briefing' à imprensa sobre a situação no enclave palestiniano, o chefe do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) no Território Palestiniano Ocupado, Andrea De Domenico, apresentou detalhes da situação em Gaza, após ter passado as últimas três semanas na Faixa destruída pela guerra.
"Honestamente, penso que a ONU não ficaria num lugar como este em nenhum outro lugar do mundo, nas condições que estamos a viver em Gaza, se não fosse pelo facto de Gaza ser o único lugar de onde as pessoas não podem fugir", afirmou Domenico.
"O secretário-geral prometeu que a ONU permaneceria para aliviar o sofrimento do povo de Gaza, custe o que custar. Prolongar esta guerra por seis ou sete meses é simplesmente terrível, mas vamos ficar e fazer o nosso trabalho", garantiu.
Num relato sobre a situação em Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza onde Israel lançou recentemente uma ofensiva e onde dezenas de deslocados morreram num campo de deslocados incendiado após ataques aéreos, o representante do OCHA contou o caso de uma família que foi encontrada carbonizada com os seus elementos abraçados, sendo impossível separar os corpos devido ao estado de incineração.
"Eu não entendo como é que as crianças vão recuperar disto. É inimaginável e difícil descrever o trauma pelo qual eles têm passado", disse.
Andrea De Domenico explicou que viu famílias fugirem com burros carregados com os seus poucos pertences em busca de um lugar seguro que não existe.
Relatou ainda que viu muitas pessoas junto ao mar, por ser a única maneira de se lavarem e de aguentarem o calor insuportável que enfrentam dentro das tendas.
Domenico disse ainda que a coordenação com as autoridades israelitas para a movimentação da ajuda humanitária continua "muito complicada".
O líder do OCHA na Palestina sublinhou que a principal razão pela qual a ONU tem conseguido continuar a funcionar é a confiança da população local, mas alertou que nas últimas semanas tem havido desespero e tensão crescentes nas comunidades e entre as próprias famílias, o que pode levar a um "ponto de rutura" que torna "impossível operar".