Vem aí o Natal e, apesar de ser para muitos uma altura feliz, para outros representa o aproximar de perguntas desagradáveis como: “Então e filhos? Já está na altura, olha o relógio biológico”.
É sobre este relógio biológico de que quero falar hoje. Mas, antes disso, vamos ao óbvio: não se pergunta. A decisão de ter ou não filhos é altamente complexa e pode ser um tema sensível que não depende só da vontade de cada um. Estabilidade financeira, apoio familiar, uma boa saúde mental, são coisas importantes e que podem atrasar esta decisão, especialmente nos dias de hoje, em que viver num T0 partilhado com três colegas de trabalho é considerado um luxo.
O conceito de relógio biológico da fertilidade surgiu no Washington Post, num artigo de 1978 chamado “O tempo está a passar para as mulheres focadas na carreira”.
Neste artigo, Richard Cohen dizia que as mulheres estavam cada vez mais focadas na carreira sem perceber que isso implicava uma menor probabilidade de conseguirem ser mães.
E, de facto, há um fundamento biológico para esta ideia. Sabemos que com o avançar da idade, a probabilidade de gravidez espontânea vai reduzindo até à menopausa, altura em que a mulher deixa de ter ciclos menstruais e por isso deixa de conseguir engravidar.
Mas há várias coisas importantes nesta questão. A primeira é que a idade é apenas um dos muitos fatores que influenciam a probabilidade de engravidar.
O tabaco, a fertilidade masculina, o stress, a alimentação, a toma de medicamentos e tantos outros fatores também contam.
Quando falamos de relógio biológico, não estamos a falar do relógio que está no balcão das Finanças, que, quando chega a hora de fechar, diz que acabou o expediente e não há mais atendimentos. É um contínuo, uma linha exponencial que se nota mais a partir dos 35 anos. Isto não significa que a partir desta idade não se consiga engravidar, até porque enquanto há ciclos menstruais, há possibilidade de gravidez. E por isso a resposta à pergunta “quando é que devo ter filhos” não é fácil.
O segredo esta em adaptar a informação que temos ao que nos faz sentido e, principalmente, à nossa realidade. Falar de fertilidade não é fácil, mas as consultas de planeamento familiar são fundamentais, quer seja porque queremos prevenir uma gravidez, ou porque a queremos planear. Agora pode servir uma rabanada a quem lhe perguntou quando é que vai ter filhos e mostrar-lhe esta Consulta Aberta.