O cordão umbilical dos bebés tem um tipo de células com muito potencial em medicina. Chamam-se células estaminais e são um género de telas em branco: células na sua fase mais inicial, que podem transformar-se em várias coisas, incluindo células de sangue saudáveis.
Isto interessa porque, no caso de cancro do sangue por exemplo, uma das possíveis curas pode ser precisamente um transplante deste tipo de células.
É com base nisto que surge a ideia de criopreservar células do sangue do cordão umbilical: em palavras simples, congelar e guardar estas células para o caso de um dia serem necessárias.
O problema é que, apesar do marketing dos bancos privados, a utilização na própria criança muito, muito, muito rara.
Se a criança tiver uma doença do sangue, muitas vezes as próprias células já têm as alterações genéticas que levaram à doença, e por isso mais facilmente procuramos um dador saudavel compativel.
Sobre o uso para tratar paralisias cerebrais, diabetes ou outras doença, este não têm qualquer evidência sólida ao dia de hoje.
Um parecer do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) refere um estudo que analisou os dois maiores bancos privados norte-americanos e, em 355 mil unidades guardadas, apenas sete foram usadas pela própria criança.
E pode pensar: “Sim, mas mesmo que a probabilidade seja 7 em 355 mil, se salvar a vida do meu filho eu quero.” A questão é que há outras opções, com uma relação risco beneficio que pode ser mais interessante.
Temos, por exemplo, a doação a banco público. Em Portugal já foi mais fácil porque hoje em dia há poucos hospitais com esta opção, mas aqui fazem a mesma criopreservação só que em vez das células só poderem ser usadas pelos “donos”, ficam num banco acessível a todos, que tanto pode servir para os seus filhos como para os de outra pessoa compatível. Esta opção, quando está disponível, não tem qualquer custo para o dador.
Depois há outra opção bastante conhecida e à qual incentivo toda a gente a aderir: a doação de medula óssea. Estas células que são telas em branco não estão apenas no sangue do cordão umbilical também estão dentro dos nossos ossos, na medula óssea.
O processo pode ser um pouco mais complexo mas é gratuito, e a probabilidade de ser usado acaba por ser maior.
Quanto mais dadores tivermos inscritos, melhor, porque aumenta a probabilidade de encontrarmos dadores compatíveis.
Para ser dador, basta cumprir os critérios, dar sangue e ficar inscrito. Depois fica numa base de dados e, se um dia alguém precisar, seja seu familiar ou não, fazem-se os testes e, caso haja compatibilidade, pode doar estas telas em branco tão importantes.
Sei que toda esta explicação é complexa, mas ao final do dia o que quero que saiba é que: guardar o sangue do cordão umbilical num banco privado é apenas uma das opções para ter acesso às células estaminais ou telas em branco.
Se o quer fazer, investigue em fontes fidedignas, como o IPST ou sociedades de especialistas em pediatria, e não apenas no site do banco privado, que vai sempre apelar à parte mais emocional.
Como o benefício real é baixo, vale a pena pensar também em inscrever-se como dador de medula óssea, e motivar quem o rodeia e cumpre critérios a fazer o mesmo!