Coronavírus

Milhares de reclusos em fim de pena vão ser libertados em França

5.000 reclusos vão ser libertados para travar propagação do novo coronavírus nas prisões.

Milhares de reclusos em fim de pena vão ser libertados em França
Sergey Ponomarev

Milhares de reclusos em fim de pena vão ser libertados antecipadamente em França, em março e abril, para descongestionar o sistema prisional francês, onde 21 detidos e 50 guardas prisionais já foram diagnosticados com Covid-19, anunciou o Governo.

A libertação antecipada, que vai abranger entre 5.000 e 6.000 reclusos em França, foi anunciada na semana passada pela ministra da Justiça, Nicole Belloubet, para tentar conter a progressão da Covid-19 nas prisões gaulesas.

Assim, através de medidas extraordinárias, os juízes foram encorajados a mostrar-se indulgentes quando analisam pedidos de redução de pena ou de libertação antecipada. Cerca de 1.600 reclusos já beneficiaram destas medidas.

Os reclusos que estão a dois meses do fim da pena também vão ser abrangidos, sendo dada a possibilidade do cumprimento do período de quarentena na casa de familiares.

França tem um problema de sobrepopulação nas suas prisões, com 61 mil lugares a serem ocupados por cerca de 70 mil prisioneiros, e o receio de uma rápida progressão da doença junto de reclusos e guardas prisionais levou o Governo a tomar medidas especiais desde o início da quarentena reforçada.

As visitas estão proibidas desde 17 de março, assim como as atividades não essenciais dentro dos estabelecimentos.

Para compensar estas medidas, a administração deu outras regalias aos presos, como televisão grátis, ajudas financeiras e ainda um crédito telefónico de 40 euros para todos os detidos.

No entanto, a inquietação cresce junto dos reclusos e dos guardas prisionais. Segundo a televisão France 3, um guarda prisional de uma prisão em Dijon encontra-se nos cuidados intensivos, e, segundo o jornal "Le Monde", na prisão de Fresnes, na região parisiense, um recluso de 74 anos morreu devido à doença.

Com 50 guardas prisionais com Covid-19 e quase 800 em quarentena, esta classe profissional pede ao Governo mais meios de proteção, como máscaras e luvas quando estão em contacto com os reclusos.

Segundo a união sindical UFAP, que agrega diversas profissões ligadas à Justiça, são os próprios guardas que compram as suas máscaras. Já junto dos reclusos e das suas famílias, a inquietação deve-se ao facto de muitos deles terem doenças crónicas ou que debilitam o sistema imunitário.

Nalgumas prisões, os detidos já recusaram recolher-se nas suas celas em protesto por melhores condições sanitárias.

Na passada quarta-feira, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu a libertação imediata de alguns prisioneiros em todo o mundo, para impedir que a pandemia de covid-19 provoque danos nas cadeias.

Ministra da Justiça garante proteção dos reclusos

Em Portugal, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, remeteu para a próxima semana uma decisão sobre a eventual libertação de reclusos mais vulneráveis, bem como a realização de testes aos guardas prisionais.

"O Governo está neste momento a avaliar a situação, sobretudo ao nível da recomendação das Nações Unidas, para a libertação imediata de alguns reclusos mais vulneráveis" e, segundo a ministra em entrevista à SIC, tomará uma opção na próxima semana quando for feita a "avaliação da execução das medidas do Estado de Emergência".

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Com três casos de Covid-19 confirmados no sistema prisional português (um importado), a ministra considerou ainda que as medidas de contenção foram tomadas atempadamente.

"A circunstância de só agora o sistema prisional ter sido atingido significa que ao longo deste tempo foi possível protegê-lo e vamos continuar a fazê-lo", disse Francisca Van Dunem anunciando que a partir de segunda-feira será "obrigatório o uso de máscaras" para quem entra nos estabelecimentos prisionais.