Coronavírus

Distanciamento social pode durar até 2022

À medida que alguns países começam a aliviar as medidas de confinamento, impostas no combate ao coronavírus, a comunidade científica alerta para a possibilidade das pessoas terem de manter o distanciamento social até 2022.

Distanciamento social pode durar até 2022
Brendan McDermid

De acordo com um artigo publicado na revista Science, um bloqueio único não será suficiente para controlar a pandemia.

Os cientistas sugerem que o vírus volte a aparecer ao longo dos próximos anos e que, por isso, as medidas de distanciamento físico tenham de ser intermitentemente implementadas.

Se assim não for, acrescentam, há o risco dos picos secundários virem a ser até maiores do que o atual. E, caso não se encontre vacina ou tratamento eficaz para a Covid-19, o cenário traçado prevê mesmo que o mundo não esteja livre de um ressurgimento de surtos antes de 2025.

Marc Lipsitch, professor de epidemiologia em Harvard, e co-autor do estudo, explica: “As infeções espalham-se quando existem duas coisas: pessoas infetadas e pessoas suscetíveis. A menos que exista uma quantidade imensamente maior de imunidade do grupo do que sabemos ... a maioria da população ainda é suscetível. Prever o fim da pandemia no verão [de 2020] não é consistente com o que sabemos sobre a propagação de infeções."

A perspetiva de distanciamento intermitente levanta questões difíceis sobre que orientações serão dadas a grupos de alto risco, incluindo pessoas com mais de 70 anos e pessoas com sistema imunológico comprometido. Ainda que, periodicamente, se aliviem as restrições ao contacto social, se não houver vacina os riscos para este grupo de pessoas permenece o mesmo.

O número total de casos nos próximos cinco anos, e o grau de distanciamento necessário, defendem os cientistas, vai depender dos níveis atuais de infecção, de saber se os infetados ganham ou não imunidade e por quanto tempo.

Essas são, para já, as grandes incógnitas, admitem. Sem as respetivas respostas não é viável prever a dinâmica do contágio a longo prazo.

O estudo analisa dois cenários. Caso venha a concluir-se que a imunidade é permanente, a doença desapareceria por cinco, ou mais anos, após o primeiro surto. Já se as pessoas ficarem imunes durante cerca de um ano, como acontece com alguns outros coronavírus circulantes, um ciclo anual de surto seria o resultado mais provável.

Lipsitch não arrisca comparar a maior ou menor probabilidade de um ou de outro. “O palpite razoável é que possa haver proteção parcial por quase um ano. No longo prazo, pode levar vários anos de boa proteção. É realmente especulativo neste momento. ”

Outras equipas de cientistas, têm encontrado evidências de que a resposta imune varia de pessoa para pessoa. Aparentemente, as que apresentam sintomas mais leves da doença também revelam uma resposta mais fraca nos anticorpos.

Marion Koopmans, chefe de virologia do Centro Médico da Universidade Erasmus, em Roterdão, que tem estado a analisar a resposta de anticorpos dos infetados, considera que a imunidade completa e permanente seria incomum, por tratar-se de um vírus respiratório.

Mark Woolhouse, professor de epidemiologia de doenças infeciosas na Universidade de Edimburgo, destaca o trabalho desenvolvido, mas sublinha a falibilidade do estudo publicado pela Science que, ao contrário de outros divulgados até aqui, estabelece previsões para um período de tempo bastante mais alargado.

Além disso, acrescenta, “É importante reconhecer que é um modelo. É consistente com os dados atuais, mas é baseado numa série de suposições - por exemplo, sobre imunidade adquirida - que ainda precisam de ser confirmadas. O estudo deve, portanto, ser considerado como sugerindo cenários possíveis, em vez de fazer previsões estanques.”