O quadro era complicado - febre e sintomas respiratórios graves. Foi assim que deram entrada no hospital os doentes que participaram do ensaio clínico sobre o remdesivir. Mas, acabaram por receber alta hospitalar em menos de uma semana.
"A melhor notícia é que a maioria dos nossos pacientes já recebeu alta, o que é ótimo. Só tivemos dois pacientes", disse Kathleen Mullane , especialista em doenças infecciosas da Universidade de Chicago, que lidera o ensaio, num vídeo onde discutia com colegas as conclusões obtidas.
Confrontada com a divulgação do vídeo, a Universidade de Chicago alertou, num comunicado, para o facto dos comentários de Mullane serem informações parciais.
"Os dados parciais de um estudo clínico em andamento são, por definição, incompletos, e nunca devem ser usados para tirar conclusões sobre a segurança ou a eficácia de um potencial tratamento que está sob investigação", lê-se.
"Nesse caso, são informações de um fórum interno entre colegas de pesquisa sobre trabalhos em andamento, que foram divulgadas sem autorização (pelo STAT news). Tirar conclusões neste momento é prematuro e cientificamente errado".
A CNN revela que pediu esclarecimentos à especialista, mas não obteve qualquer resposta.
Uma das falhas apontadas ao estudo consiste no facto de não ter incluído o chamado grupo de controlo, onde a alguns pacientes não é dado o medicamento, para poder determinar se foi mesmo a substância que afetou a sua condição. Sem isso, os médicos não podem ter a certeza se a recuperação foi consequência da toma do remdesivir.
Para já, há dezenas de outros ensaios sobre o medicamento experimental a decorrer.
Com testes ao remdesivir a decorrer em 2400 pacientes com sintomas graves de Covid-19, em 152 locais em todo o mundo, a biofarmacêutica Gilead acredita que possa ter resultados até o final do mês. Já sobre os resultados parciais divulgados pelo STAT, a empresa é cautelosa.
"Entendemos a necessidade urgente de um tratamento para a COVID-19 e o interesse em dados sobre o antiviral em investigação", informou a empresa em comunicado à CNN, alertando, no entanto, que algumas histórias sobre pacientes são apenas isso - histórias.
"A totalidade dos dados precisa ser analisada para tirar conclusões do estudo. Os relatórios anedóticos, embora encorajadores, não fornecem o poder estatístico necessário para determinar o perfil de segurança e eficácia do remdesivir como tratamento para o Covid-19."
Entrevistado pela SIC, no final de Março, o médico investigador Hugo Silva, defendia que o Remdesivir é o medicamento mais promissor para tratar as pessoas com coronavírus.