Para trás estão 76 dias de confinamento. Mas, na cidade que fechou portas a 23 de Janeiro, há poucas razões par falar em regresso à normalidade.
De acordo com o relato do repórter da CNN, ainda que ali o surto pareça amplamente controlado, sem novos casos de contágio ou mortes relacionadas com a Covid-19 na província de Hubei, há ainda muito medo e a ansiedade nos moradores de Wuhan.
Nas ruas desertas que, há poucas semanas, se escondiam por trás dos postos de controlo da polícia, há agora liberdade para circularem carros e pessoas. Mas, quem ali mora continua a não arriscar manter menos que metro e meio de distância daqueles por quem passa na rua. Muitas lojas, incluindo grandes cadeias como a Starbucks, transferiram os produtos e serviços para a calçada, para evitar a concentração de clientes no interior dos estabelecimentos.
Xu, proprietário de uma empresa local, conta que desde que reabriu, em abril, tem havido muito poucos clientes. "A situação agora não é muito optimista. Mesmo após a reabertura dos negócios, não há muitas pessoas. Estou um pouco preocupado com isso", disse. "Não sei quando (os negócios) podem recuperar."
Só no primeiro trimestre do ano, a economia de Hubei, um dos motores económicos da China, encolheu quase 40%, segundo a agência de notícias estatal Xinhua.
Agora que as lojas vão, aos poucos reabrindo, os moradores começam a regressar a locais públicos, a passear nos parques e até a frequentar barbeiros ao ar livre, mas sempre de máscara, e longe da agitação que caracterizava Wuhan antes da pandemia.
Passaram duas semanas desde que terminou o confinamento obrigatório. Por cada loja aberta, há outra fechada. Os restaurantes continuam limitados às vendas para fora.
Os ginásios permanecem encerrados. Nas ruas, há quem ainda só arrisque sair com equipamentos de proteção completa, e no atendimento aos clientes, não se vêm só máscaras mas também luvas.
A equipa da CNN conta ainda que, ao fazer o check-in no hotel, foi-lhes solicitado que fornecessem o histórico de viagens recentes, e tiveram que medir a temperatura. Para o acesso ao elevador, os recepcionistas deram-lhes um lenço de papel, com o qual deviam pressionar os botões.
À espera da segunda vaga
Christopher Suzanne é americano, mas mora em Wuhan há, pelo menos, 10 anos com a mulher, chinesa. A família estava nos Estados Unidos, para o batismo do filho recém-nascido, quando o coronavírus atingiu a cidade. Para poderem cuidar dos pais da mulher, a família tomou a decisão de regressar a Wuhan em 30 de março.
De volta à cidade, que diz considerar como sua casa, Suzanne assume-se feliz por ver as pessoas de novo nas ruas e a aproveitar o sol da primavera, mas confessa sentir ainda algum receio: "Isso deixa-me feliz, mas não quero ver as pessoas complacentes. Temos medo que haja uma segunda vaga".
Com o aumento de casos importados, que levou ao maior número de novas infecções no país em semanas, as preocupações com esta possibilidade de um novo surto de coronavírus vêm aumentando na China.
Um medo que é também potenciado pela subida do número de casos assintomáticos, dado que foi mantido em sigílo por várias semanas, mas que passou a ser relatado no final de Março.
Esta quarta-feira, havia pouco menos de mil casos assintomáticos em observação na China, segundo a Comissão Nacional de Saúde.
Suzanne acredita que uma segunda vaga de infecções na cidade é inevitável, agora que as pessoas voltam a sair e a ter contacto com quem não apresenta sintomas, mesmo estando infectado. "Poder sair era apenas uma explosão de excitação, mas depois há o medo. Devo ir lá fora? A minha família vai ficar bem se eu sair?", explicou. "Espero que volte ao que era. Mas não sei se isso vai acontecer."
Questionado acerca da preocupação com a possibilidade do governo chinês estar a ocultar informações - sobre o número de mortos ou a origem do vírus - Suzanne está convicto de que, como ele, muitos outros habitantes locais estão mais preocupados em manterem-se a si e aos seus entes queridos a salvo.
"Se eles querem ou não divulgar essas informações com o público, não me preocupa ... estou realmente preocupado com minha família e com o que podemos fazer", afirmou.