Coordenador da luta anticoronavirus e figura respeitada nos EUA, Anthony Fauci sempre procurou manter-se afastado da política, mas com a covid-19 a ser o principal tema das eleições presidenciais, está contra a sua vontade na arena eleitoral.
Desde o início da pandemia do novo coronavirus, a esquerda dos EUA tem-no elogiado e a direita criticado, mas Donald Trump sabe que ele é popular.
Trump acusado de usar declarações enganadoras na campanha
A sua equipa de campanha eleitoral utilizou informações do imunologista para fazer crer que este elogiou a gestão da crise sanitária pelo presidente norte-americano, quando se aproxima o escrutínio de 3 de novembro.
Mas o próprio candidato democrata, Joe Biden, já disse que iria ouvir Anthony Fauci.
"É frustrante para ele ver-se politizado quando passou (...) 40 anos a procurar evitar fazer política", garantiu o presidente do Departamento de Ética Médica e Política de Saúde da Universidade da Pensilvânia, Zeke Emanuel, à AFP.
Por que razão os dois campos procuram obter o diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas?
"Integridade e credibilidade. É tão simples quanto isto", explicou Emanuel. "O homem é íntegro. Ele diz o que sabe da ciência, pelo que é credível", garantiu o académico.
Anthony Fauci está revoltado com campanha de Trump

Anthony Fauci
KEVIN DIETSCH / POOL
Depois do aparecimento do novo coronavirus, Anthony Fauci, de 79 anos, célebre no mundo da infecciologia e da luta contra a sida antes desta pandemia, não tem parado de apontar a perigosidade do vírus, sem nunca criticar frontalmente Donald Trump, apesar de este não parar de minimizar, mesmo depois de ter contraído a doença da covid-19.
Em um vídeo de campanha de Trump, a narradora afirma que "o presidente Trump atacou o vírus frontalmente, como todo o líder deve fazer" antes da divulgação de um extrato de uma entrevista de Anthony Fauci.
"Não posso imaginar (...) quem quer que possa fazer mais", aparece o médico a afirmar. Um extrato que dá a entender que apoia a ação de Trump. Mas este extrato de vídeo tirou o cientista do seu descanso.
"As declarações que me são atribuídas sem a minha permissão pela equipa de campanha do Partido Republicano foram retiradas do seu contexto, a partir de um comentário que fiz há vários meses, sobre os esforços das autoridades sanitárias federais", explicou o imunologista.
E Fauci insistiu na sua neutralidade: "Em quase cinco décadas de serviço público, nunca apoiei publicamente qualquer candidato político".
Na estação televisiva CNN, Fauci adiantou que pensava que o vídeo devia ser retirado.
Mas os republicanos mantêm a sua versão dos factos. "As palavras pronunciadas são certas e proveem diretamente da boca do doutor Fauci", defendeu Tim Murtaugh, diretor de comunicação da campanha de Trump.
Trump sobre Fauci: "Ele é democrata. Toda a gente o sabe"
Prova de que Fauci está no centro da campanha eleitoral, Trump disse na quinta-feira, durante um comício no Estado da Carolina do Norte, que o médico pertence ao campo adversário.
"Tony, Tony Fauci, é uma pessoa simpática", garantiu Trump, antes de acrescentar: "Ele é democrata. Toda a gente o sabe".
Anthony Fauci por vezes disse bem da resposta do governo norte-americano à pandemia, mas tem alertado nos últimos tempos sobre um aumento dos casos de covid-19, enquanto Trump se felicita pelo trabalho feito.
Do lado dos democratas, Fauci também entra nos cálculos da estratégia política
A senadora Kamala Harris, que é candidata à vice-presidência, na lista de Joe Biden, afirmou recentemente que se iria vacinar se Anthony Fauci o aconselhasse, ao contrário do que faria se o conselho viesse de Trump.
Depois da difusão do vídeo de campanha Trump, Joe Biden agarrou a ocasião para criticar o seu adversário republicano.
"Eis uma coisa que vou fazer de forma diferente se for presidente: vou escutar a sério os conselhos e o conhecimento do Dr. Fauci. Não o vou atacar por ter dito a verdade", escreveu na rede social Twitter.
Estes desenvolvimentos não devem ter efeitos palpáveis sobre a eleição, uma vez que a maior parte dos eleitores já fez a sua escolha. Mas pode colocar o presidente em dificuldade junto de eleitores mais indecisos.
"Isto reforça a ideia que Trump só se interessa por si próprio e pelo seu destino eleitoral, não pelo país, como um líder deveria fazer", comentou Todd Belt, professor de Ciências Políticas, em George Washington University.