O primeiro caso de covid-19 associado à variante genética da África do Sul foi esta sexta-feira identificado em Portugal pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), adiantou à Lusa a instituição.
O caso identificado em Portugal, através da sequenciação genómica, foi já reportado pelo INSA às autoridades de saúde, que estão já "a realizar as devidas diligências para o rápido rastreio de contactos e interrupção da potencial cadeia de transmissão", referiu o INSA.
Segundo cientistas sul-africanos, os dados recolhidos até agora não mostraram que a nova variante do SARS-CoV-2 detetada na África do Sul, nomeada 501Y.V2, não acompanha uma maior taxa de morbilidade, embora o aumento da pressão do sistema de saúde possa estar por detrás de mais mortes.
O INSA tem vindo a desenvolver desde abril de 2020, em articulação com o Instituto Gulbenkian de Ciência e com a colaboração de mais de 65 laboratórios, hospitais e instituições de todo o País, um estudo que visa determinar os perfis mutacionais do SARS-CoV-2 para identificação e monitorização de cadeias de transmissão, bem como identificação de novas introduções do vírus em Portugal.
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Caso foi identificado numa pessoa sul-africana residente em Lisboa
As autoridades de saúde anunciaram esta sexta-feira que o primeiro caso de covid-19 identificado em Portugal da variante genética da África do Sul foi detetado numa pessoa sul-africana que reside em Lisboa.
"O caso reporta-se a uma pessoa natural da África do Sul, residente em Lisboa, que foi diagnosticada a 7 de janeiro e atempadamente isolada, pelas Autoridades de Saúde de nível regional e local, no âmbito das suas competências de vigilância epidemiológica", revela um comunicado conjunto do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e da Direção-Geral da Saúde (DGS).
No âmbito do "Estudo da diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 (COVID-19) em Portugal", o INSA afirma que prosseguirá com as atividades de vigilância laboratorial do SARS-CoV-2 em articulação com as Autoridades de Saúde, mantendo especial foco na deteção de novas introduções e monitorização da circulação de variantes a suscitar particular interesse pela comunidade científica e Autoridades de Saúde.
Novas variantes vão "dominar todo o panorama das infeções"
Apesar de ainda não haver dados sobre a perigosidade desta nova variante, João Gonçalves alerta que este é “talvez o momento mais perigoso", devido ao "aparecimento destas variantes que vão criar uma grande pressão sobre todas estas transmissões virais que nós temos estado a ver no último mês”.
“Esta variante da África do Sul, tal como a variante da Inglaterra é muito transmissível. Nós não temos dados que nos permitam dizer que é mais perigosa no ponto de vista de provocar doença mais grave, mas é tão ou mais transmissível do que a inglesa”, disse o virologista.
O virologista avança que há atualmente 15% de casos de covid-19 causados pela estirpe inglesa e sublinha que “nas próximas semanas, juntamente com a estirpe sul-africana, vai dominar todo o nosso panorama das infeções”.
Propaga-se mais rápido mas não é mais grave
Uma investigação sugere que a variante do SARS-CoV-2 detetada na África do Sul se espalha 50% mais rápido e que os anticorpos naturais são menos eficazes, segundo cientistas sul-africanos, que acrescentam que esta não provoca doenças mais graves.
"Há limitações sobre o que podemos ver num laboratório, por isso temos de esperar pelos dados dos ensaios clínicos para compreender a gravidade da resistência das novas variantes às vacinas", disse a professora Penny More, do Instituto nacional de Doenças Transmissíveis (NICD, em ingês), numa reunião de especialistas liderada pelo ministro da Saúde sul-africano, Zweli Mkhize, citada pela agência noticiosa Efe.
Apesar de assinalarem que o vírus "se está a adaptar", os cientistas assinalaram que isso "não significa que as vacinas não funcionem", argumentando que estas são complexas e podem provocar múltiplos tipos de imunidade.
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Investigadores admitem que covid-19 pode tornar-se uma doença crónica
Há cada vez mais investigadores preocupados com o síndroma pós-covid. Admitem que sequelas podem tornar a covid-19 uma doença crónica. Estudos revelam que a maioria dos doentes mantem sintomas após alta hospitalar e durante vários meses.
As dores de cabeça são o sintoma mais comum, que persiste longos meses, mesmo depois da doença ter sido aparentemente ultrapassada.
Mas são inúmeros os doentes que se queixam também de depressão, tonturas, palpitações, dormências e alteração de olfato e paladar.
Na última reunião do Infarmed, um inquérito apresentado pelo epidemiologista Henrique de Barros mostrava que mais de 60% dos inquiridos apontava pelo menos um destes sintomas depois da alta hospitalar.
É desconhecido, no entanto, os efeitos da covid-19 entre a população que não recorreu ao hospital, esteve assintomática ou nem sabia sequer estar infetada.
Depois da fase aguda da doença será necessário avaliar órgãos como os pulmões, rins, coração e fígado, até porque os sintomas persistentes incluem em muitos casos, falta de ar, tosse persistente e fadiga extrema.