As conclusões do inquérito da IGAS, ordenado pelo Ministério da Saúde (MS) no seguimento do surto de covid-19 no Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS), em Reguengos de Monsaraz, admitem "responsabilidade deontológica" dos médicos que recusaram visitar a instituição no seguimento de instruções da Ordem dos Médicos e de um sindicato.
As informações foram divulgadas pela tutela na segunda-feira e os documentos referentes ao processo serão remetidos ao Ministério Público da comarca de Évora, onde decorre um inquérito de natureza criminal, assim como ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS).
De acordo com o inquérito, as questões de ilegalidade invocadas pelos médicos dos centros de saúde locais para não fazerem visitas aos utentes do lar decorreram de "instruções recebidas quer da Ordem dos Médicos, quer do SIM (Sindicato Independente dos Médicos), as quais suscitaram nestes um clima de dúvida e preocupação, a partir do dia 02 de julho de 2020".
A IGAS referia ainda que uma atuação contrária ao estipulado colide com o Código Deontológico dos médicos, no princípio geral de cooperação e na cooperação devida para a defesa da saúde pública.
O sindicato ainda não recebeu as conclusões do IGAS e a Ordem dos Médicos disse à SIC que vai exigir com caráter de urgência o inquérito para depois se pronunciar publicamente sobre as conclusões que contrariam as da auditoria realizada pela comissão da Ordem.
O surto em Reguengos de Monsaraz foi detetado em 18 de junho de 2020 e provocou 18 mortes (16 utentes e uma funcionária do lar e um homem da comunidade).
No total, foram infetadas pelo novo coronavírus 162 pessoas. A maior parte dos casos de infeção aconteceram no lar da FMIVPS, envolvendo 80 utentes e 26 profissionais, mas também 56 pessoas da comunidade foram atingidas.
A Procuradoria-Geral da República também instaurou um inquérito.