O aumento de casos diários de covid-19 em Portugal volta a colocar em cima da mesa a possibilidade de ser regressar às medidas de restrição para conter a propagação do vírus. Há especialistas que afirmam que estamos já na quinta vaga da pandemia e o Governo já convocou uma reunião sobre a situação epidemiológica para a próxima sexta-feira.
Tiago Correia, professor de saúde pública internacional, considera que existem duas linhas que as autoridades de saúde devem ter em consideração. Por um lado, deve haver uma tentativa de evitar o ritmo de transmissão e “achatar a curva”; por outro é necessário “perceber quais são as implicações das infeções nos cuidados de saúde”.
“Não me interessa tanto perceber se são dois mil ou três mil [casos diários], interessa-me perceber como é que esses dois mil ou três mil casos se refletem do ponto de vista dos cuidados de saúde”, explica Tiago Correia em entrevista à Edição da Tarde da SIC Notícias.
A par com a covid-19, o inverno traz também um agravamento de outras doenças respiratórias que, tipicamente, já provocam uma “enorme sobrecarga nos sistemas de saúde”, alerta o especialista.
Sobre a possibilidade de haver novas restrições, Tiago Correria sublinha que é importante observar as medidas adotadas em outras países - como por exemplo a Áustria e a Dinamarca - , aproveitando o “facto da onda em Portugal ser mais ténue”.
“Devemos, nestes dias e semanas, observar o comportamento da situação epidemiológica nos vários países, com várias medidas, porque isso também nos serve de aprendizagem. Quando chegarmos ao final de novembro ou início de dezembro e tivermos de tomar posições políticas, pelo menos temos uma base de comparação com aquilo que se verificou ou não noutros países”, afirma.
Considera, no entanto, que as medidas podem passar pela “reintrodução de lotação nos espaços fechados” e em “tudo o que implique grandes aglomerados de pessoas próximas que não consigam manter a distância”. Sobre o teletrabalho, Tiago Correia considera que esta medida pode “retirar algumas pessoas das ruas no dia a dia”.
Sobre a vacinação de reforço, o especialista elogia a atitude dos portugueses na primeira fase da vacinação, lembrando que Portugal teve menos contestação e resistência à vacinação do que outros países europeus. No entanto, considera que continua a haver uma “mensagem errática” na administração da dose de reforço.
“As pessoas não sabem se devem ser vacinadas ou não. Há modalidade de casa aberta, mas os centros estão fechados. Estamos a cometer erros que eram desnecessários nesta fase”, afirma, acrescentando que “a culpa não é das pessoas”.